31 dezembro 2006

Excerto de um livro não anunciado (358)

Por muito sedutora que seja esta proposta de Petty e Cacioppo, não parece possível isentá-la de alguns reparos, nomeadamente, quando confrontada com o conceito de persuasão crítica que vimos sustentando, ao qual, em nossa opinião, não se ajusta. É o caso, por exemplo, da excessiva generalização empreendida pelos respectivos autores, que, na ânsia de uma grande síntese, viram-se forçados a deixar de lado muitas das particularidades de cada uma das diferentes investigações, teorias e situações persuasivas que lhes serviram de referência. Foram assim conduzidos, em nome de um único e algo arbitrário princípio unificador – o princípio do pensamento activo – à separação entre a persuasão que enfatiza a informação de que o receptor dispõe sobre a questão em aberto (via central) e a persuasão que se orienta e rege por factores e motivos que parecem não possuir qualquer relevância informativa ao nível da apreciação da causa (via periférica), tais como sublinhar a credibilidade do comunicador ou as consequências da não adopção da solução proposta, a administração de recompensas e punições, a atractibilidade da mensagem ou da sua apresentação e um muito vasto leque de técnicas ou procedimentos persuasivos mais virados directamente para a decisão ou acção do receptor do que para a sua compreensão da respectiva mensagem. O resultado foi o agrupar em cada um dos lados (via central e via periférica), distintas investigações cuja autonomia e diversidade tendem a passar despercebidas quando classificadas apenas em função da informação relevante sobre a questão em apreço.

26 dezembro 2006

De mim para mim

O que os mais descrentes dos blogues não entendem é a urgência que as pessoas têm em partilhar o que pensam e sentem, com o mundo, com estranhos, consigo próprios.

Carla Quevedo

in Revista Tabu, Sol, 23 Dez 2006


Vou buscar aos “CINCO SENTIDOS” de Carla Quevedo o mote para este meu post. Também eu quero hoje partilhar algumas ideias comigo próprio, escrever de mim para mim, numa palavra, ser o meu primeiro leitor. Sinto que chegou a altura de acertar a conversa com os meus botões, de me auto-justificar, principalmente quanto à reduzida e intermitente actividade bloguística dos últimos tempos. Mesmo se nada houver de muito especial para dizer ou ler.

Não me aconteceu nada de grave (longe vá o agoiro), não me aconteceu nada de maravilhoso (mas um dia, quem sabe...), muito menos as duas coisas ao mesmo tempo. Mas é precisamente isso que agora me ocupa. Vejo-me a escrever no blogue com menos frequência do que gostaria - e do que os poucos (mas muito fiéis) leitores bem merecem - experimento até algum desconforto com a situação, mas tudo se passa como se fosse o último a saber das razões que me têm impedido de vir aqui escrever as minhas "patacoadas", com outra constância e maior actualidade.

É natural, portanto, que a resposta a este meu princípio de inquietação, seja muito mais simples do que imagino. Provavelmente, não terei vida para isto, sendo que isto, neste momento, é o próprio blogue. Não me refiro à minha evidente impreparação cultural, política, literária e científica para ombrear com as grandes "estrelas" blogosféricas de que sou primeiro admirador. No espaço público cada um contribui com o que pode ou sabe e a mais não é obrigado. A questão é bem mais básica. Como diria o outro, é a vida. Nem mais. A vida.

E é a falar de vida que quase invejo os que conseguem colocar um ou mais posts diariamente, que em cima da hora analisam factos ou acontecimentos noticiados online pelos media tradicionais, que editam artigos de opinião uns atrás dos outros, que visitam todos os dias (ou quase) dezenas e dezenas de blogues e ainda encontram disponibilidade para inscrever uma sugestão ou reparo nas respectivas caixas de comentários. Digo para os meus botões que não levem a mal o desabafo, mas um tal ritmo de edição blogosférica só está ao alcance de profissionais ou então dos... ociosos (no mais nobre dos sentidos).

Não tenho o privilégio de me enquadrar em qualquer destas duas categorias: nem vivo da escrita (com muita pena minha) nem sou senhor único do meu tempo (o que ainda mais lamento). Não posso, pois, enganar-me a mim mesmo nem alimentar falsas expectativas: os meus posts foram, são e, em princípio, assim serão irredutivelmente supletivos em relação às minhas actividades académicas e empresariais do dia-a-dia. Supletivos e, direi até, delas dependentes. Porque os dias só têm 24 horas e não consigo meter lá dentro todos os meus anseios, todos os meus planos ou projectos. Logo, ao menos transitoriamente, alguma coisa tem que ficar para trás.

No meu caso, fica para trás o piano que pouco mais do que “arranho”, como o ficam o CD que já só escuto no carro, o teatro por onde passei, os filmes que só vou ver “pela certa”, depois de escutar a opinião dos amigos ou de ler a respectiva crítica. Resistem ainda os livros (e as livrarias), as revistas, os jornais e a rádio, a Web e o e-mail, que sigo continuamente, mas já não tanto as exposições de pintura ou fotografia, os concertos e a própria televisão. O blogue? O blogue anda por aí algures entre essas duas categorias de coisas que desigualmente me roubam a atenção e o interesse, mas com a agravante de ser, como se sabe, um verdadeiro ladrão do tempo. É por isso que, de tempos a tempos, preciso de o meter na ordem, fazer-lhe “ver” a forte concorrência que tem no universo dos meus interesses e preocupações, não vá a importância subir-lhe à cabeça e querer um dia tornar-se, até, aditivo.

E lá surgem dois, três dias ou um pouco mais (em regra, não ultrapassa uma semana) sem colocar qualquer post. Mas o que posso adiantar é que esta minha maneira de pensar e agir não diz respeito apenas aos blogues. Há mil e uma coisas que também gostaria de fazer e não faço, só porque os dias do meu imaginado futuro se encontram já tão preenchidos que teria de prescindir de coisas comprovadamente muito boas para poder aderir a outras tantas que, por ora, são apenas novas. E isso nunca me pareceu bom negócio.

Acredito, claro, que os blogues, como toda a presença no "virtual", são um poder em aberto de afirmação "real", no sentido em que funcionam não só como extensão das nossas faculdades sensoriais e cognitivas, como, ainda mais notavelmente, das condições da própria existência. Em todo o caso, afirmar que o espaço blogosférico faz parte da minha vida, não é ainda dizer que a substitui. E isso diz tudo.

25 dezembro 2006

A visita de um amigo



Café Magestic, Porto, em 22.12.2006

Por estes dias, mais concretamente na quarta e na quinta-feira passadas, tive a alegria de receber a visita do meu amigo Hugo que, sendo embora argentino, está há largos anos radicado em Espanha. Hugo Pardo Kuklinski é investigador e professor titular do Departamento de Comunicação Digital, na Universitade de Vic, em Barcelona e escreve com regularidade no blogue digitalismo.com que criou em parceria com o seu colega e também argentino, Carlos Scolari.

Foi uma honra, e ao mesmo tempo, um prazer enorme, poder acompanhar o Hugo pelas ruas mais históricas do Porto e de Gaia, à (re)descoberta dos sinais do tempo, das caves do Vinho do Porto que afinal são de Gaia, do casario da Ribeira portuense, das outrora tão movimentadas Rua de Mouzinho da Silveira e Rua das Flores, da belíssima Estação de S. Bento, sempre em direcção à "baixa" da cidade, onde na recentemente desfigurada Avenida dos Aliados o Café Guarany é, mais do que nunca, de entrada obrigatória.

O jantar no "Dom Tonho", do lado de Gaia - o de paredes de vidro com aquela soberba panorâmica sobre o Rio Douro - foi a preceito, se exceptuarmos o desagradável frio que quase ia congelando os pés do Hugo. Valeu o aconchego de um "tinto" de primeira, para aquecer. Aqui fica a chamada de atenção aos responsáveis: uma oferta de tal requinte não pode descurar o pormenor da temperatura ambiente no interior do restaurante. Mesmo reconhecendo que o malandro do Hugo foi logo escolher os dois dias mais frios do ano para nos visitar...

No dia seguinte fui ter com ele ao bonito Estádio do Dragão que não se cansou de fotografar:


Diz-me o Hugo que todo o argentino é apaixonado por futebol. Colaborei: tirei-lhe uma foto com o dragão mesmo sobre a sua cabeça. Mas o sol ameaçava despedir-se naquela tarde. Levei-o, por isso, prontamente a Gaia que, diga-se o que se disser, ainda é o único sítio de onde se pode apreciar condignamente o Porto. Subimos então ao Mosteiro da Serra do Pilar (o da foto do meu post anterior) e bem lá do alto, o Hugo pôde desfrutar da melhor vista geral da cidade (ver foto "Porto Antigo" no mesmo post) e bater algumas fotografias de ângulos muito especiais.


No "histórico" restaurante "Abadia", que se encontrava repleto, continuamos a nossa animadíssima conversa do dia anterior sobre a vida, o mundo e as pessoas, sobre os negócios e a ética e, naturalmente, sobre a retórica, os blogues, a web2 e as novas tecnologias que são a actual menina dos olhos do Hugo. Terminado o jantar, subimos à movimentada Rua de Santa Catarina que às 11 da noite se encontrava ainda pejada de compradores e passeantes. Depois fomos acabar a conversa para o Café Magestic, verdadeiro ícone da cidade, ligado desde os anos vinte do século passado às tertúlias políticas, ao debate de ideias, às exposições, aos saraus de música e poesia, apresentações de livros e outros eventos de carácter vincadamente cultural. "Muito bonito, muito bonito" - nao se cansava o Hugo de repetir. Até que pegou na máquina e tirou ao interior do luxuoso estabelecimento a original foto que encabeça este post.

Retomamos então o fio à meada. Argumento para aqui, argumento para acolá, lá fomos aferindo a visão pessoal de cada um perante alguns dos principais desafios que mais tarde ou mais cedo teremos de enfrentar, tanto nas respectivas áreas científicas como no plano da vida comum. Até que o sinal de luzes para encerrar o café nos surpreendeu por volta da meia noite. Íamos nessa altura na questão de saber se a inteligência artificial algum dia superará a inteligência humana. O Hugo pensa que não. Eu admito que sim. O que é óptimo: já temos tema para o nosso próximo encontro.

Daqui deste lugar e para todos


Boas Festas

Mosteiro da Serra do Pilar, Ex-Libris da cidade de Gaia

Boas Entradas

Barco rabelo subindo o Rio Douro

e Feliz Ano Novo

Porto Antigo, Ribeira, Património da Humanidade
(Vista do Mosteiro da Serra do Pilar em 23.12.2006)

24 dezembro 2006

As minhas respostas

O Luis Carmelo, do Miniscente, tem vindo a realizar "uma série de mini-entrevistas acerca da blogosfera e dos seus impactos na vida específica dos próprios entrevistados". Na passada quinta-feira publicou as minhas respostas. Foi um prazer participar na sua excelente iniciativa.

Que jornalistas mais desconfiados

Maria de Belém acumula uma avença do grupo Espírito Santo para dar pareceres na área da Saúde com a sua função de presidente da Comissão Parlamentar da Saúde. Não há incompatibilidade, segundo a lei e como alega a ex-ministra. Mas haverá, inevitavelmente, decisões que se cruzam e influenciam no exercício dos dois cargos. E a sobreposição de actividades, privada e parlamentar, na mesma área não só não é o exemplo mais aconselhável para um deputado dar a quem o elege como levanta as maiores dúvidas e reticências no que respeita a ética política.

José António Lima, Sol, 16 Dez 2006

Para ser franco, até nem vejo nada mais compatível com Belém do que o Espírito Santo.

A necessidade de informação

O Primeiro-Ministro escreveu ao Tribunal Constitucional - onde se encontrava em apreciação a nova Lei das Finanças Locais e Regionais - a dizer que tal lei é necessária ao país. Já tínhamos a magistratura de influência. Nasce agora a magistratura da necessidade.

A. Magalhães Pinto, Vida Económica, 22 Dez 2006

Será que o Tribunal Constitucional anda assim tão mal informado?

18 dezembro 2006

Excerto de um livro não anunciado (357)

Tudo isto faz com que em certos casos, a via central, que aposta na atenção e compreensão da mensagem, tenha que ser preterida em favor de uma persuasão via periférica, que não exige um nível tão acentuado de pensamento activo nem incide sobre informação relevante para a compreensão da questão em aberto. Segundo o quadro geral de entendimento proposto por Petty e Cacioppo para a compreensão da modificação de atitudes, saber então quando se deve optar por uma ou outra destas duas vias de persuasão é uma questão que só pode ser resolvida em concreto, conhecidos que sejam a força dos argumentos e a capacidade de elaboração do auditório: se é alta a probabilidade de elaboração por parte do receptor e se os argumentos são persuasivamente fortes, a via central pode ser a melhor estratégia a seguir; se, pelo contrário, é baixa a probabilidade de elaboração e os argumentos são fracos, nesse caso, a melhor estratégia será o recurso à via periférica.


15 dezembro 2006

O futebol, os negócios e as negociatas

"A corrupção no futebol é, além disso ­a corrupção mais popular. Não a mais grave, não a mais comum, nem sequer, coitada, a mais prejudicial. Os "negócios" fazem coisas com que nunca sonhou o pior aldrabão do futeboL Mas fazem o que fazem discretamente, sem um nome à vista e em operações tão complicadas que ninguém percebe. O futebol não goza desta penumbra. É público, primitivo e também ele indigente. Para começar, Portugal inteiro conhece as personagens que a polícia, a imprensa ou o ocasional denunciante acusam de "imperdoáveis" patifarias. Depois, não há qualquer mistério naquela espécie de delinquência: comprar um árbitro, traficar terrenos, pequenas trapalhadas com dinheiro. Nada que exceda a imaginação ou o intelecto do aficionado comum. De resto o futebol está falido e viver de expedientes (fora da lei ou da decência) é um método familiar ao indígena. (…) As listas de candidatura para a Federação Portuguesa de Futebol atraíram de repente a atenção de meio mundo. O Sr. Ministro da Justiça prometeu um serviço da Judiciária exclusivamente dedicado ao futebol. Só falta uma declaração do dr. Cavaco. (…) Sucede que a corrupção no futebol é uma ínfima parte da corrupção geral do país."

Vasco Pulido Valente, Público, 15 Dez 2006

14 dezembro 2006

A recusa dos senhores Procuradores

Como é que os senhores Procuradores mudaram de opinião de um momento para o outro recusando agora integrar uma lista do Conselho de Justiça da FPF para a qual, pelos vistos, já se tinham declarado disponíveis? O que terá realmente motivado este público recuo que levou já o presidente da FPF a desabafar que o futebol não tem lepra? Sugere-se aqui que poderá terá sido a influência de outros Magistrados associada ao facto da lista integrar arguidos do Apito Dourado. Discordo e as razões são três:

1) não subscrevo a opinião de que os senhores Procuradores sejam tão facilmente influenciáveis, mesmo que por colegas de profissão.

2) ao integrarem uma lista conjuntamente com arguidos do Apito Dourado os senhores Procuradores dariam um sinal à comunidade, para já não dizer um exemplo, de concreta obediência ao princípio "in dubio pro reo" e pública distinção entre arguido e condenado.

3) não haverá condições mais favoráveis ao exercício da reconhecida isenção dos senhores Magistrados do que nas situações em que a dita isenção é susceptível de ser posta à prova.


Nota-Claro que não tem nada a ver mas a Procuradora-Geral Adjunta, Maria José Morgado, que é
contra a integração de magistrados ou outros agentes ligados à administração da Justiça em cargos dirigentes do Desporto, vai coordenar os processos relacionados com a operação Apito Dourado, sobre a corrupção no futebol, por decisão da Procuradoria-Geral da República. Nem sei porque é que me lembrei disto agora.

12 dezembro 2006

Excerto de um livro não anunciado (356)

Qual destas duas vias é de mais fácil implementação? Quando deveremos optar por uma ou por outra? Petty e Cacioppo concluem que a via central é a mais difícil forma de modificar as atitudes, dado, sobretudo, a dificuldade de se construir mensagens altamente persuasivas. É que se os argumentos inventados não forem irresistíveis, as pessoas poderão contra-argumentar. Por outro lado, se forem irresistíveis mas demasiado complexos para serem inteiramente compreendidos, os destinatários deixar-se-ão guiar mais pela sua atitude inicial do que pelos próprios argumentos. A esta dificuldade, aliás, junta-se igualmente o facto da informação apresentada ter que provocar no sujeito respostas cognitivas favoráveis à aceitação do que lhe é proposto, bem como a necessidade do receptor estar não só habilitado como também motivado para compreender o conteúdo da comunicação. É, aliás, no campo da motivação que se situa o principal problema a resolver, sempre que o esforço persuasivo incida exclusiva ou basicamente sobre a força dos respectivos argumentos: como motivar alguém a prestar atenção e a pensar sobre o que temos para lhe dizer?


09 dezembro 2006

A moral e a guerra

Sim, Senhora Sócrates. Se as acções só pudessem ser julgadas por quem esteve nas mesmas situações, então teríamos de ter juizes, 'quase' assassinos, 'quase' ladrões, 'quase' violadores, tal como ‘quase’ santos ou ‘quase’ sábios. E isso é, logicamente, impraticável e absurdo. Mas o que aqui quis focar é que em nenhum caso o absurdo ou a mera impossibilidade de pôr em prática uma dada solução - presumivelmente a ideal ou mais justa - nos desobriga de reflectir sobre o imperativo ético-filosófico de garantir justiça a todos os cidadãos, em qualquer causa e circunstância, muito especialmente, diria, em situações verdadeiramente excepcionais, como o são todas as guerras.

O facto de, até ao momento, não ser possível julgar de outro modo, não significa que a situação seja justa. Assim como não me parece que a questão fique resolvida com o recurso a expressões e conceitos tão indeterminados como “limites”, “acção fundamentada” e “acção criminosa”. É que, seja o que for que estes signifiquem, terão sempre uma interpretação fora da guerra e outra dentro. Como muito bem disse a Carla Quevedo,
“Dificilmente podemos falar de moral quando há situações que não controlamos”.

A guerra é, por vezes, inevitável, e a justiça será sempre a dos homens, tributária da sua natural imperfeição. Mas é precisamente por um juiz não ser um "quase" assassino, um “quase” sábio nem, muitas vezes, um “quase” combatente, que tem de ter em conta que a mera representação mental de uma dada situação de guerra pode ficar a anos luz da vívida situação real em que os factos se produziram. É para esse drama do combatente* acusado que remete a afirmação final do capitão americano a qual, para ser falaciosa, precisaria de parecer verdadeira e ser falsa, o que não é o caso. Foi, provavelmente, apenas mais um desabafo de quem estava por dentro da guerra e a vivê-la, momento a momento. Mas um desabafo que "Dá que pensar", como escrevi logo no início do meu
post. Ou não dá?

* Combatente e não apenas militar.

Excerto de um livro não anunciado (354)

Essa diferença, dizem os autores, tem mais a ver com o alcance da mudança de atitude que se fique a dever ao pensamento activo sobre a informação relevante fornecida pela mensagem quanto à atitude, questão ou objecto considerados. Assim, na via central, o pensamento sobre a informação relevante para a questão em apreço é o que mais directamente determina a direcção e intensidade da mudança de atitude produzida. E é nesta via que recai toda a persuasão que resulta do pensamento acerca da questão ou dos próprios argumentos em causa. Já na via periférica, a mudança de atitude fica a dever-se aos factores e motivos inerentes à persuasão que se mostram suficientes para levar a uma mudança da atitude inicial sem que seja necessário qualquer pensamento activo sobre os atributos da questão ou assunto em apreço. Tais factores e motivos são de natureza diversa mas podem consistir, por exemplo, no associar a posição que se defende a outras coisas sobre as quais o receptor já tem um sentimento favorável (tais como o alimento, o dinheiro ou o prestígio), em atribuir a autoria de uma afirmação ou declaração a uma fonte especializada, atractiva ou detentora de poder, ou no expôr a causa somente depois de ter apresentado uma série de outras causas menores a que o receptor não dê grande importância, para que em comparação possa parecer menos má ou melhor.

06 dezembro 2006

jornalismo com letra pequena

Na sua edição de hoje, o JN orgulha-se da revista "Notícias de Sábado" andar nas bocas do mundo e de ter ganho “uma repentina fama internacional”. Tudo porque a NS do passado sábado incluía um texto com diversas frases da actriz Gwyneth Paltrow, entre aspas e sem qualquer citação da respectiva fonte, de modo a criar a aparência de que se tratava de uma autêntica entrevista. A “obra” foi de tal modo urdida e resultou tão perfeita que enganou até os próprios responsáveis da revista “People”, a ponto, de tentarem junto da NS comprar o respectivo artigo que conteria uma polémica “declaração” da actriz à publicação portuguesa: a de que “Os britânicos são muito mais inteligentes e civilizados do que os americanos”.

Evidentemente que à NS saiu o título pela culatra e por certo que não era bem desta fama que estaria à espera. É que perante a proposta de compra da People a NS teve que “abrir o jogo” e reconhecer que não houve entrevista nenhuma à actriz. O que houve então? Meras citações, segundo anuncia hoje o JN. Não se estranhe, por isso, que este jornal venha agora dizer que os homens da “People” confundiram a simples citação com um entrevista exclusiva e que quando a actriz afirmou ontem em comunicado que não deu qualquer entrevista à NS isso “acaba por corresponder à verdade”. Mas o problema é que se eram citações deveria ter sido indicada a sua fonte, o que não foi feito. É claro que a indicação da fonte iria anular imediatamente o efeito da pseudo novidade das ditas declarações e destruir também, por completo, a aparência de que se tratava de uma entrevista. Mas não seria transparência a mais? E depois, quem poderia imaginar que o “surripiar” da fonte fosse enganar não só o comum dos leitores como os colegas de profissão da “People”? Correu tudo mal, foi o que foi.

Conclusão: a "Notícias de Sábado" errou.

1) errou por ter dado a aparência de entrevista actual a um conjunto de citações de frases proferidas pela actriz há quase um ano atrás.


2) errou por esconder dos leitores que tas citações tinham como fonte a revista Star.

O Jornal de Notícias andou ainda pior ao dar cobertura a tão notória manipulação jornalística, gizando a esfarrapada desculpa da citação (pudera, a falsa entrevista já fora desmascarada) e regozijando-se com a “fama internacional” da NS. Como que para o JN mais importante do que ser honesto e transparente com o leitor seja que muitos falem de si ou das publicações que lhe estão associadas, mesmo que pelas piores razões. Teria sido bem mais nobre reconhecer o erro em vez de o ignorar. Mas acima de tudo, seria bom que o JN não confundisse credibilidade internacional com má fama internacional, que é o mais que a NS pode ter angariado neste seu caso com a actriz Gwyneth Paltrow e a revista People.
O JN, o grande JN, tem obrigação de saber disso.

04 dezembro 2006

Excerto de um livro não anunciado (353)

Petty e Cacioppo defendem que embora tais investigações difiram nos nomes, postulados e particulares efeitos que procuram explicar, podem ser pensadas como correspondendo a duas vias únicas para modificar a atitude. Uma primeira, a que chamam via central que enfatiza a informação que a pessoa tem sobre a atitude, objecto ou questão em causa. Teremos aqui um processo de persuasão acentuadamente racional, em que o receptor atenta nos argumentos da mensagem para os compreender e avaliar. Alguns argumentos conduzi-lo-ão para pensamentos favoráveis enquanto outros lhe suscitarão contra-argumentos. Uma segunda via para a modificação da atitude, pelos mesmos autores designada como via periférica, consistirá no recurso a outros factores de persuasão tais como administração de recompensas ou punições e as inferências que a pessoa retira sobre os motivos pelos quais o falante argumenta em favor de determinada posição. Esta segunda via para a persuasão já não passa predominantemente pelo pensamento e reflexão: se a mensagem é associada a uma sensação agradável ou a uma fonte atractiva ou credível, ela é aceite; se a mensagem coloca o sujeito numa posição demasiado discrepante, é rejeitada. Ou seja, o receptor toma consciência da sua própria resposta comportamental ou fisiológica e daí infere qual a atitude que tem que assumir. À primeira vista, parece que a diferença entre estas duas vias de persuasão, poderia ser assim definida: a primeira é racional ou lógica e a segunda não é. Mas Petty e Cacioppo advertem que tanto os pensamentos favoráveis como os contra-argumentos que a pessoa elabora em resposta à mensagem não necessitam de ser estritamente lógicos ou racionais. Basta que façam sentido para a pessoa que os elabora (*)

(*) Afirmação que parece compatível com o conceito damasiano de uma racionalidade integradora da emoção e dos afectos

02 dezembro 2006

Comovente

Foi ver ontem à noite, pela televisão, o Nuno Gomes a benzer-se escassos segundos depois de ter "entrado a matar" sobre João Moutinho com uma "tesourada" daquelas que podem mandar qualquer um para o bloco operatório mais próximo. Cruzes...

01 dezembro 2006

A simpatia em pessoa

Excerto de um livro não anunciado (352)

Acabamos de nos referir a algumas das principais orientações teóricas que estão por trás das sucessivas investigações sobre o fenómeno persuasivo. Cada uma com os seus méritos próprios, mas também, por vezes, com evidentes limitações, tanto ao nível dos resultados obtidos como no que concerne às respectivas metodologias de pesquisa. O que é curioso, no entanto, é que, apesar de muitas dessas diferentes aproximações à persuasão competirem entre si na interpretação dos resultados de uma particular experiência, nenhuma delas foi até hoje completamente abandonada, verificando-se antes, isso sim, uma cada vez maior tendência para restringir os seus domínios de aplicação. Não podemos, por isso, terminar esta incursão ao estudo experimental da modificação de atitudes, sem fazer uma breve referência ao “quadro geral de entendimento” elaborado por Petty e Cacioppo, através do qual estes dois autores procuram fazer uma síntese da maioria dos conceitos presentes nas inúmeras investigações já realizadas.