Persuadir sem palavras

Os STOMP. Vi-os hoje, ao vivo, no Coliseu do Porto. São, de facto, espantosos. Tiram som e ritmo de tudo o que tocam. Não pronunciam uma única palavra, mas também não precisam. Assegurado está o diálogo com o público. Por uma arte que até fala. A sua. Fui persuadido.

Eleições para Reitor na UBI

O Edital
A notícia
Os candidatos: António Fidalgo e João Queiroz a)

a) actualizado em 18.02.2009

Foto síntese

Inverno

(Santo Tirso - 25 Jan 2009, 18:26)

O homem.com medo de si próprio (12)

A progressiva abstracção

Vimos as raízes profundas da técnica e o fundo instintivo e inconsciente que está por detrás da sua evolução: o homem, como que se submetendo a uma espécie de lei vital, esforça-se por ampliar o seu poder sobre a natureza. Não se pode porém – diz Gehlen - explicar a técnica só como resultante de uma ânsia de poder inerente ao homem, pois isso, ainda que certo, seria muito insuficiente. O que se passa é que, para além disso, “o homem procura objectivar-se a si próprio: encontra no mundo exterior os modelos e imagens do seu próprio ser misterioso e, com a mesma capacidade de ‘auto-alienação’ adjudica a sua acção ao mundo exterior que a retoma e prossegue” [28].

É daí que vem a estranha fascinação pelo automatismo, pela monótona repetição do idêntico, pelo movimento circular ordenado que originariamente terá descoberto ao contemplar o firmamento. E o pensamento primitivo estava tão profundamente ligado e dependente das leis da técnica sobrenatural, que a vida anímica do homem fatalmente teria que vir a ser atingida pelo fulgurante aparecimento da cultura industrial. Esta surge, realmente, com uma tal amplitude de transformações no mundo que justifica, por si só, uma análise atenta às suas principais características.

Ora o grande traço distintivo da nova cultura industrial é, para Gehlen, a radical intelectualização que se observa nos domínios autenticamente espirituais das artes e das ciências e que corresponde à diminuição do apelo ao concreto, da espontaneidade e da acessibilidade não problemática. É esse panorama que o leva a afirmar estarmos “perante uma das mais raras e maiores transformações da condição humana, perante uma alteração secular, não só dos comportamentos vitais e sociais, mas, mais profundamente ainda, das próprias estruturas da consciência, da própria dinâmica dos impulsos humanos. Vemos hoje em acção o entendimento humano no estádio posterior ao iluminismo, emancipado da moral que o iluminismo julgava nele infundida e que assim se teve de reduzir ao mísero papel de sujeição constante à alçada do produtivo, do realizável e do pragmático” [29].
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[28] A. Gehlen (s/d), A ALMA NA ERA DA TÉCNICA, Lisboa: Livros do Brasil, p. 33
[29] ibidem, p. 37

in Américo de Sousa (2004), O homem com medo de si próprio, Porto: Estratégias Criativas, p. 25

Para dizer as coisas brutalmente

Depuis Freud, nous trouvons utile et commode de parler de manière désinvolte de l'esprit inconscient sans en payer le prix: expliquer exactement ce que nous entendons par là. Notre image des états mentaux inconscients est qu'ils sont exactement semblables aux états conscients avec seulement la conscience en moins. Mais qu'est-ce que cela veut dire au juste? Je n'ai vu aucune réponse satisfaisante à cette ques­tion - certainement pas chez Chomsky ou Fodor et pas même chez Freud. Pour dire les choses brutalement, je crois que dans la plupart des appels à l'inconscient en science cognitive nous n'avons pas vraiment la moindre idée de ce dont nous parlons.

John Searle, (1998), La construction de la réalité sociale, Paris: Gallimard, p. 168

Dizer que não se faz a menor ideia do que seja o inconsciente, em ciência cognitiva ou em qualquer outro domínio do saber, será um exagero de estilo. Mas não é exactamente isso que sugere o uso e abuso do inconsciente para explicar tudo o que permanece inexplicável?