24 fevereiro 2010

Não é nada censura, é tudo conversa



Momento especialmente tocante foi aquele em que José Leite Pereira, director do JN, deu (hoje) a saber que o primeiro-Ministro já lhe tinha telefonado, pelo menos por duas vezes, para protestar contra o conteúdo de algumas notícias. (Noticiário tsf)

E mais tocante ficou quando José Leite Pereira (porventura dando-se conta desta sua insólita revelação) acrescenta que acha isso normal pois também recebe telefonemas de outros agentes politicos. Que não têm a importância do primeiro-Ministro, como é óbvio, mas ainda assim, acha que é normal. Neste caso (no seu caso), tudo não passou de uma conversa com o sr. primeiro-Ministro, que até lhe permitiu dar a posição do jornal. "O problema tem tudo a ver com a maneira como a conversa decorre, o facto de haver uma conversa não me parece que seja um problema", remata.

Portanto, sr. primeiro-Ministro, já sabe: toca a conversar (sem problemas) com os directores de jornais, sempre que uma notícia lhe desagrade ou contrarie. E, já agora, para a próxima apresse-se um pouco mais, tente chegar antes de que seja publicada. Quem sabe se a "conversa" persuasiva não chegará ainda mais longe do que alguma vez a censura chegou? Se o que conta é "a maneira como a conversa decorre", não custa tentar, não é?

23 fevereiro 2010

Sinais de fogo de artifício

Excelente a entrevista que José Sócrates "fez" ontem a Miguel Sousa Tavares. Disse o que quis, como quis, quando quis e sempre que quis. Idem para o que não disse. Grande performance. Conduziu a "conversa" do princípio ao fim. Miguel Sousa Tavares, completamente "dominado" pelo primeiro-Ministro, surgiu irreconhecível. Parecia o entrevistado. Sinais de fogo? Só se for de artifício.

Veja a entrevista integral:

21 fevereiro 2010

A arte de bem (se) governar

Pelos vistos o governador de Brasília, José Roberto Arruda, é o primeiro governador (em exercício) na história do Brasil a ser apanhado em flagrante a receber dinheiro "irregular" de um ex-assessor. Mas não é caso único. Há mesmo quem, de bolsos cheios, tenha optado por meter as notas nas meias. Era uma pressinha, como documenta o vídeo abaixo.

E agora? Lá como cá, resta inventar os argumentos mais desconchavados para fazer crer que o que vemos não é verdade ou nem sequer existe. Arruda, por exemplo, segundo o Público (*), terá começado por afirmar que os 50.000 reais que recebeu no vídeo serviriam para comprar panetones para os pobres, mas mais tarde já veio dizer que as condições de humidade na sala poderiam ter "truncado a gravação". Ou é de mim ou o Governador foi mais eficaz a receber o dinheirinho, do que a argumentar em sua defesa.

(*) Público, 18 Jan 2010

16 fevereiro 2010

Ultrapassagem mal calculada

Lucília Monteiro/VISÃO

Vindo lá de trás, Rangel ultrapassou Aguiar. Aguiar, claro, não gostou de ser ultrapassado (quem gosta?). Quer continuar Aguiar na linha da frente. Resultado: lá vão os dois em corrida, um a par do outro e, pior do que isso, na mesma faixa de rodagem. Que perigo. A estrada é estreita e o choque, inevitável. Para ver no que dá uma ultrapassagem mal calculada.

Yes

10 fevereiro 2010

Do princípio da incerteza ao fim da escuta

O falatório sobre as socráticas escutas do Face Oculta virou acontecimento nacional e o caso não é para menos: haverá ou não indícios da prática de crime de atentado contra o Estado de Direito? A pergunta pode não ser retórica, mas é desta que a resposta já não pode fugir. E ao ritmo a que a polémica segue, cada dia parece trazer uma nova achega ou opinião.

Hoje, por exemplo, o manda-chuva da Portugal Telecom, Henrique Granadeiro, diz ao Diário Económico que não vê razão para envolver o Dr. Rui Pedro Soares (Administrador da Portugal Telecom) na questão da TVI. E que ele é que é o presidente da coisa ou, nas suas humildes palavras, "O responsável pela relação com o Estado - que é o detentor da ‘golden share' - sou eu", e a ele, garante-nos, o accionista Estado não lhe deu instruções para comprar a TVI. E disse.

Mas não foi a defesa de um "homem da casa" que mais me impressionou nas declarações de Henrique Granadeiro ao Diário Económico. O que achei verdadeiramente tocante foi a confissão desta dúvida que, até à data, não me lembro de que mais alguém a tivesse invocado:

"Não me posso pronunciar sobre a novela das escutas, porque não sei, nem tenho de saber, se são verdadeiras (...)"

Não sei, nem tenho de saber, se são verdadeiras - atira Granadeiro. Como o compreendo. Tanto compreendo que, se a mesma dúvida me assaltasse, ao "Não sei, nem tenho de saber se são verdadeiras" haveria de acrescentar: "e ainda que soubesse sempre poderia ter-me enganado". Não fosse o diabo tecê-las. O diabo do Governo, por exemplo.