23 janeiro 2006

Sondagens sob suspeita

A análise que Pedro Magalhães fez no Público da passada Sexta-feira, sob o título "Sondagens Modos de Usar", é das coisas mais claras, objectivas e cientificamente prudenciais que já li sobre tão controversa matéria. Particularmente pedagógica a detalhada explicação de como os valores das sondagens "não resultam necessariamente de manipulações intencionais com fins políticos ou outros" mas antes de factores tais como o inevitável recurso a uma amostra, a ordem e formulação das perguntas e a forma como se lida com as recusas, não respostas ou indecisos. Onde é pena que Pedro Magalhães não tenha querido ir mais longe é na parte em que dá a entender que o ambiente político e mediático não deve ser "contaminado pela suspeita sistemática acerca de supostamente 'óbvias' intenções por detrás da apresentação deste ou daquele resultado". Principalmente depois de admitir que:

"Não se pode, como é óbvio, rejeitar à partida a ideia de que essas intenções possam, nalguns casos, existir, mas reconheça-se que as motivações políticas por detrás deste tipo de acusações são bem mais evidentes"

A questão é: se uma voz tecnicamente tão autorizada admite, sem mais, que essa intenções de manipulação podem existir, será ainda estranho que os principais actores políticos delas suspeitem? Talvez, por isso, que Pedro Magalhães, depois do que nos tem ensinado sobre sondagens, pudesse agora também tranquilizar-nos sobre a natureza dos procedimentos de controlo e validação ético-científica que nelas vigoram (se for esse o caso) na medida em que concorram para a sua credibilidade.