Tribuno versus comentador
O Bruno do avatares de um desejo diz que "Francisco Louçã é, desde há muito, o melhor parlamentar português a discursar. Não sei que opinião faz disto o retórica e persuasão. (O Marcelo Rebelo de Sousa também daria um bom tribuno) (...)"
***
Caro Bruno,
Também considero que Francisco Loucã é realmente um tribuno de eleição, um emérito conhecedor das "leis" da retórica. Já não me parece tão evidente que seja "o melhor parlamentar a discursar" embora reconheça que o Bruno tem muito boas razões para pensar isso. Francisco Louçã é um homem que domina a palavra (e o raciocínio) como poucos e tem produzido, no parlamento e fora dele, intervenções retóricas de nível superior. Mas é curioso como o bom desempenho retórico depende, muitas vezes, de aspectos que parecem irrelevantes. Vou citar apenas um desses aspectos: a intensidade da voz.
Aquela entoação reforçada que é necessária à produção de um discurso no Parlamento requer características pessoais muito distintas da fala mais coloquial ou até intimista de um comentário na televisão, especialmente, quando este é produzido sob a forma de um "simulado" diálogo. Por exemplo, no caso de Marcelo Rebelo de Sousa, que é, indiscutivelmente, um retórico do mais alto nível, já não o vejo a conseguir, como tribuno (recordo-me de alguns discursos como Presidente do PSD), a mesma performance que revela como comentador da TVI. Marcelo é, sem, dúvida um professor de outra galáxia. Percebe-se no seu olhar o brilho de quem se regozija com a sua própria clareza analítica, a sua explicação sistemática e, acima de tudo, com a justificação das conclusões que todas as semanas nos propõe ou recomenda.
O assunto é sério, mas é tratado com tal arte e mestria que rapidamente se transforma numa diversão, numa fonte de prazer para quem o vê e escuta. E Marcelo será o primeiro a divertir-se, principalmente se, como penso, se envolve muito com o que diz, mas, verdadeiramente, nunca chega a experimentar o entusiasmo que parece viver. Nem poderia. Porque quem fala com muito entusiasmo corre o risco de perder até "o fio à meada" daquilo que tinha para dizer. E isso, como se sabe, não é coisa que se espere de "um" Marcelo Rebelo de Sousa. Ele está ali para interpretar e esclarecer, mas também para entusiasmar (e não para ser entusiasmado). No melhor dos sentidos, é um actor que leva para o estúdio da televisão o papel que costuma representar na sala de aula. Sim porque aquilo não é apenas um comentário: é uma aula em directo. E aí, ele é brilhante.
***
Caro Bruno,
Também considero que Francisco Loucã é realmente um tribuno de eleição, um emérito conhecedor das "leis" da retórica. Já não me parece tão evidente que seja "o melhor parlamentar a discursar" embora reconheça que o Bruno tem muito boas razões para pensar isso. Francisco Louçã é um homem que domina a palavra (e o raciocínio) como poucos e tem produzido, no parlamento e fora dele, intervenções retóricas de nível superior. Mas é curioso como o bom desempenho retórico depende, muitas vezes, de aspectos que parecem irrelevantes. Vou citar apenas um desses aspectos: a intensidade da voz.
Aquela entoação reforçada que é necessária à produção de um discurso no Parlamento requer características pessoais muito distintas da fala mais coloquial ou até intimista de um comentário na televisão, especialmente, quando este é produzido sob a forma de um "simulado" diálogo. Por exemplo, no caso de Marcelo Rebelo de Sousa, que é, indiscutivelmente, um retórico do mais alto nível, já não o vejo a conseguir, como tribuno (recordo-me de alguns discursos como Presidente do PSD), a mesma performance que revela como comentador da TVI. Marcelo é, sem, dúvida um professor de outra galáxia. Percebe-se no seu olhar o brilho de quem se regozija com a sua própria clareza analítica, a sua explicação sistemática e, acima de tudo, com a justificação das conclusões que todas as semanas nos propõe ou recomenda.
O assunto é sério, mas é tratado com tal arte e mestria que rapidamente se transforma numa diversão, numa fonte de prazer para quem o vê e escuta. E Marcelo será o primeiro a divertir-se, principalmente se, como penso, se envolve muito com o que diz, mas, verdadeiramente, nunca chega a experimentar o entusiasmo que parece viver. Nem poderia. Porque quem fala com muito entusiasmo corre o risco de perder até "o fio à meada" daquilo que tinha para dizer. E isso, como se sabe, não é coisa que se espere de "um" Marcelo Rebelo de Sousa. Ele está ali para interpretar e esclarecer, mas também para entusiasmar (e não para ser entusiasmado). No melhor dos sentidos, é um actor que leva para o estúdio da televisão o papel que costuma representar na sala de aula. Sim porque aquilo não é apenas um comentário: é uma aula em directo. E aí, ele é brilhante.
<< Home