18 março 2004

Excertos de um livro não anunciado (178)

Sendo controversos, os juízos de valor foram considerados pelos positivistas como não possuindo qualquer objectividade, ao contrário do juízos de realidade, onde a experiência e a verificação permitiria o acordo de todos. Mas Perelman entende que há valores universais, admitidos por todos, tais como o verdadeiro, o bom, o belo e o justo, embora reconheça que essa sua universalidade se fica a dever ao facto de permanecerem indeterminados. Uma vez que se tente precisá-los, aplicando-os a uma situação concreta, aí, sim, surgirão imediatamente os desacordos. Os valores universais serão pois um importante instrumento de persuasão, no dizer de E. Dupréel, uma “espécie de utensílios espirituais totalmente separáveis da matéria que permitem moldar, anteriores ao momento do seu uso, e ficando intactos depois de terem servido, disponíveis, como antes, para outras ocasiões” *. Além disso, permitirão representar os valores particulares como um aspecto mais determinado dos valores universais.

* Perelman, C., (1993), O Império Retórico, Porto: Edições ASA, p. 46