23 maio 2004

Gaia: cidade e cidadania

Ontem fui assistir ao seminário internacional "Cidade, Cidadania e Desenvolvimento Local", que a Junta de Freguesia de Oliveira do Douro, V. N. Gaia, levou a efeito no auditório da conhecida Escola de Gervide.

Gostei. Muito bem organizado, oradores de qualidade e prestígio, auditório confortável e tecnologicamente bem equipado. A presença de uma ex-governante (Elisa Ferreira) e do actual Vice-Presidente da Câmara de Gaia (Poças Martins) conferiu à sessão da manhã uma tonalidade essencialmente prática. Na parte da tarde, vieram as intervenções de carácter mais teórico-compreensivo. Mudaram os estilos e as perspectivas mas manteve-se o alto nível das comunicações apresentadas. Parabéns à Junta.


Registei as seguintes afirmações ou tópicos.


* Elisa Ferreira (Economista, deputada à Assembleia da República):

É essencial que não se perca o sentido do território.

A minha solução é a das 5 regiões pois são precisos espaços onde se pensem políticas fundamentais.

Acho que essa história do défice é uma história louca. Estamos a perder tempo.

Diz-se muito que Portugal é um país pequenino mas não é nada pequenino. Dentro da Europa a maioria dos países são iguais ou mais pequenos do que nós.



* Poças Martins (Engenheiro, Vice-Presidente da Câmara de Gaia):

Uma cidade é essencialmente complexidade e especialização.

No campo as coisas chegam até nós naturalmente. Nas cidades são planeadas.

Para as pessoas se sentirem bem temos que planear bem.

Entre o ambiente e o urbanismo o liberalismo não chega, tem que haver ordem.

Em Portugal há um poder central forte e um poder autárquico forte. Mas não há nada no meio.

Gaia não pode ser planeada sozinha pois insere-se numa área metropolitana.

No caso de Gaia não é hoje possível planear a mais do que 10 anos e nos concelhos em volta, ainda menos...

Em matéria de ambiente, a cidade tem resolvidos os problemas estruturais do saneamento e do abastecimento de água. Subsistem apenas alguns problemas ao nível do lixo e de espaços verdes.

Nos últimos 5 anos foram efectuadas mais de 100.000 ligações ao saneamento, com a comparticipação dos cidadãos nas respectivas despesas.

Todas as praias do concelho de Gaia têm bandeira azul. E sâo as únicas no Grande Porto (a ciddade do Porto não tem nenhuma).

Nâo há em Gaia oferta de emprego qualificado. O objectivo estratégico é, por isso, fazer do concelho um polo de conhecimento e desenvolvimento empresarial. Serão disponibilizados 500 hectares de parques empresariais.

Há 70.000 pessoas que vão todos os dias para o Porto trabalhar, perdendo o tempo em filas. Logo, a aposta será numa política de empregos mas também de mobilidade, através de novas vias rodoviárias, o "metro" e barcos no rio.



* German Vargas (Docente Universitário-Santiago de Compostela):

A democracia criou-se para a participação dos cidadãos mas o princípio "a cada pessoa um voto" (âmbito individual) fica muito aquem da participação comunitária que tem mais a ver com a ideia de "estar com o outro".

Existe uma globalização de informação e discurso mas não uma globalização dos bens e da sua distribuição.

É preciso voltar à comunidade e à participação (acção social) como princípio e método de desenvolvimento local.



* Rogério Roque (Economista, Docente no ISCTE):

O mundo está hoje sujeito a algumas ameaças que podem levar à sua própria destruição e que correspondem a outros tantos desafios: a competitividade, a desigualdade, a sustentabilidade e a diversidade.

A economia solidária é um novo conceito que pretende dar conta de uma especial articulação entre o "social" e o "económico", em que um e outro são colocados solidariamente ao serviço do bem estar dos cidadãos.