Os maléficos poderes da inveja
Ontem à noite fui à FNAC do GaiaShopping ver José Gil apresentar o seu livro "Portugal hoje: o medo de existir". Mas devo, desde já, dizer que... soube-me a pouco. Bem sei que não é todos os dias que se tem a possibilidade de estar frente a frente com um dos 25 pensadores mais importantes do mundo, de ouvi-lo discorrer sobre a sua obra (sim porque, apesar de todas as virtualidades da escrita, a oralidade é ainda o registo mais apropriado tanto para intuir a dimensão humana de quem escreve como para perceber as principais coordenadas do seu pensar). Deste ponto de vista foi um encontro muito interessante. Mas já no plano das preocupações teóricas, José Gil não quis alongar-se sobre as principais premissas de uma argumentação que parece colocar a inveja dos portugueses no epicentro de todos os seus males. Terá ficado assim no ar uma ideia (excessivamente) pessimista sobre Portugal e sobre os portugueses, para a qual, aliás, se orienta o próprio título do livro. Sinceramente, não estou nada convencido sobre tão maléficos poderes da inveja, quer enquanto sentimento, quer como sistema, nem tão pouco a concebo com dimensão exclusivamente negativa. Quando digo, por exemplo, que alguém tem uma posição invejável estou, regra geral, a admitir que desejaria estar no seu lugar. Dito de outro modo, apenas elejo um modelo a seguir. Não é, por isso, a inveja nem tão pouco a comparação com os outros que nos tolhem o futuro. Uma e outra podem até funcionar como reforço de motivação em vez do propalado sentimento de inferioridade ou medo de existir. Mas isto é o que penso antes de ler o livro. Logo veremos se mantenho a opinião.
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