03 setembro 2007

A prioridade das impressões sobre as ideias

Hoje na TV, em directo da Bienal de Cerveira, grande plano para uma instalação cultural que satiriza o presidente americano George Bush. Na altura vai a passar uma jovem visitante que, interpelada pelo repórter, responde com o que lhe vai na alma:

Repórter: gostou?
Jovem: gostei, gostei muito. É assim mesmo, devia morrer ou estar preso (o Bush).
Repórter: porquê?
Jovem:(embasbacada) ahm... é a minha opinião.

Temos assim que a jovem sabe o que sabe, só não sabe porque sabe. Sabe que nao gosta de Bush, sabe até o que lhe deveria ser feito ou acontecer, mas não sabe porque sabe uma coisa dessas. Para agravar as coisas, ao não saber chama-lhe opinião.

Como explicar este tipo de reacção que não é tão raro quanto isso? A pessoa está convencida de uma coisa a tal ponto que sobre essa coisa julga ter uma opinião e, contudo, quando interrogada, não consegue justificar logicamente a sua convicção. Teremos aqui uma aplicação daquilo que Hume reconhece ser o primeiro princípio que estabelece na ciência da natureza humana: o princípio da prioridade das impressões sobre as ideias? (*)

(*) Hume, David (2001), Tratado da Natureza Humana, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 32-35.