09 abril 2009

Barack Obama e os aplausos dos jornalistas

O insólito:-Barack Obama fala e os próprios jornalistas aplaudem.

Ocorreu em Londres na conferência de imprensa que o presidente dos EUA deu no final da cimeira do G20 e repetiu-se no sábado seguinte, já em Estrasburgo, na conferência de imprensa após a cimeira da Nato. Já se sabe que tais aplausos são jornalisticamente menos próprios e não é por se tratar de Obama que deixam de o ser. Mas se toda a regra tem excepção, talvez que esta excepção dos aplausos se tenha ficado a dever, sobretudo, ao excepcional aplaudido.

É, pelo menos, esta a ideia com que fico depois de ler o excelente artigo da jornalista Teresa de Sousa, no Público de ontem, no qual testemunha* que é difícil ficar-se neutral perante Barack Obama e explica porquê:

[a dificuldade] "não resulta do carisma e da capacidade de inspiração de Obama, nem das suas extraordinárias capacidades de comunicação. É mais do que isso. Como disse em jeito de autojustificação um jornalista japonês, 'ele responde mesmo às perguntas'. Neste caso, 'mesmo' não quer dizer apenas que não foge às perguntas. Quer dizer que se envolve nas questões e lhes responde com uma inteligência, um rigor e uma sinceridade que são absolutamente raras num político, quanto mais no político mais importante do mundo. Foi a esse exercício de inteligência e rigor intelectual que os jornalistas não conseguiram resistir. O que ele diz faz sentido. Faz um tremendo sentido".

E faz mesmo. Obama diz, por exemplo: "Se nos comprometermos com o desarmamento nuclear, teremos uma muito maior autoridade moral para negociar com Teerão". Será aceitável duvidar da inteligência, do rigor e da sinceridade de um presidente dos EUA que anuncia uma coisa destas ao mundo? Teresa de Sousa tem toda a razão: é muito difícil ficar "neutral" perante Obama. Abençoada dificuldade.

*Teresa de Sousa esteve presente na conferência de imprensa de Estrasburgo