01 novembro 2009

Como um verdadeiro artista


Fez bem. Porque nem é o candidato ideal, nem o cargo o faria feliz. É até muito provável que o argumento da falta de unidade do partido tenha sido apenas uma maneira airosa de fugir ao aperto. Porque o professor é, a vários títulos, uma personalidade notável: um notável jurista, um notável professor, um notável comentador político. Mas convenhamos: não é um notável político.

Uma coisa é conhecer a fundo uma arte. Outra, bem diferente, é ser um verdadeiro artista. Ora como já vimos aquando da sua primeira passagem pela liderança do PSD, o professor não é um verdadeiro artista como político, nem coisa que se lhe pareça. Não tem carisma popular (ou populista, vai dar no mesmo). É muito bom no que pensa, é muito bom no que diz, mas depois, nem se ri para o povo com aquela falsa naturalidade que os grandes políticos cedo aprendem (ou que já está dentro deles), nem dramatiza, nem (se) emociona, nem arrebata multidões. E assim, não dá. O povo não quer ser enganado. Mas desde quando bastou ser competente e verdadeiro para o conquistar?

Paciência. As coisas são como são e é como são que devemos encará-las. Pertencendo grande parte desse povo ao próprio PSD, o insucesso seria prognosticável. O professor não tem feitio (nem paciência) para ir agora combater adversários onde deveria encontrar apoiantes. Restaria, enfim, uma leve hipótese: a de ser levado ao colo por uma equipa de prestigiados militantes que estivessem dispostos não apenas a apoiar o seu nome para a presidência do partido, mas também para se manterem a seu lado, no duro combate político que se avizinha. Mas a meia dúzia de manifestações de apoio entretanto tornadas públicas, parece que são apenas isso: manifestações de apoio. E nestas condições, o invocado argumento da falta de unidade no partido, serviu às mil maravilhas para o professor sair por onde entrou. Aqui sim, como um verdadeiro artista.