01 julho 2003

A retórica negra da "confiança política"

Ficou claro no meu post de anteontem (e se não ficou deveria ter ficado) que não concordo com o facto da chamada confiança política servir de critério e e de único fundamento para os sucessivos governos demitirem e nomearem uns tantos (no caso, uns muitos...) altos funcionários da administração. Porque está-se mesmo a ver que esta alegada confiança política cheira a esturro. Do que se trata, regra geral é de preferir a carneirice - desculpas pelo termo - o yes man ou, de modo mais abrangente, o seguidismo ideológico-partidário em desfavor das verdadeiras qualidades de carácter, de competência e desempenho profissional. Estas sim, deveriam presidir à escolha de quem tem por missão pôr em prática as medidas e orientações políticas deliberadas pelo Governo. O que, por norma, não acontece, como já ficou dito. Lamentavelmente. Está na hora, portanto, de manter a confiança pessoal e institucional como valor funfamental no relacionamento Governo-administração, mas de uma confiança que tenha a ver com o carácter e as qualidades pessoais e não com a antecipada submissão ao credo político de quem detenha o poder. Porque isso da confiança política, em boa verdade, não passa de uma subtil manifestação daquilo a que Barthes e Meyer chamam de retórica negra .