29 abril 2004

UBI et Orbi - Breves notas sobre o VI SOPCOM (3)

As reacções:


Congressos da Covilhã: duas ou três notas

Nos últimos dias, realizaram-se três congressos de Ciências da Comunicação - o lusófono, o ibérico e o nacional - localmente organizados pela Universidade da Beira Interior. Cerca de oitocentos participantes passaram, em momentos distintos, pela ensolarada cidade, situada na encosta da Serra da Estrela.
É difícil dar uma ideia de um conjunto de iniciativas que envolvem dezenas de conferências e centenas de comunicações, de valor muito desigual. De resto, este tipo de congressos é sobretudo ocasião para interconhecimento, descoberta de pontos de interesse comum, surgimento de novos projectos. Um esboço de algo que poderá vir a ter repercussões interessantes no espaço ibero-americano poderia ser a articulação entre o portal Infoamerica e a BOCC - Biblioteca Online de Ciências da Comunicação (ver, a este prop?sito, a peça que ontem trazia o Público). Pela parte que me toca mais directamente, e tendo estado a coordenar, com Pilar Diezhandino, a mesa de jornalismo, do encontro ibérico, um aspecto que me chamou a atenção foi a reduzida expressão do ciberjornalismo ou webjornalismo - as comunicações apresentadas, directa ou indirectamente relacionadas com o assunto foram propostas na mesa de Novas Tecnologias. Interessante, não é? Em contrapartida, nos congressos vários, terá havido três papers sobre weblogs. Dois deles sobre a relação com o jornalismo, apresentados na mesa que coordenei. Também significativo, não é?
Uma última nota para assinalar o facto, ainda invulgar em Portugal, nesta comunidade académica nascente, de ter sido entregue aos participantes, no primeiro dia, o CD-ROM com os textos das comunicações.

* publicado por Manuel Pinto em 26.04.2004



IMAGENS DE CINEMA

Regressado da Covilhã venho com uma imagem renovada de uma cidade que encontra na Universidade o sentido federador, perdido pela derrocada da indústria textil. A Universidade da Beira Interior ocupou simbolicamente os edificios que antes eram dessas indústrias e tranformou as ruínas em lugares de produção de conhecimento e cultura. Numa visita rápida António Fidalgo mostrou-me (a mim e ao Eduardo Cintra Torres bem como ao Joaquim Fidalgo) o museu, com os seu tanques usados para tingir os tecidos, bem como os estúdios e os modernos locais de partilha das imagens e dos sons. Saí da Covilhã muito sensibilizado com esta “evolução” de tal modo que lá voltarei, no início de Junho, para uma repetição do ciclo Nicolas Philibert. Assim ficou combinado com a Manuela Penafria.

*publicado por José Carlos Abrantes em 24.04.2004



CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA COVILHÃ

A SOPCOM está a promover o seu III Congresso de Ciências da Comunicação, na Covilhã, desdobrado em dois encontros, o VI Lusocom e o II Ibérico, reunindo investigadores portugueses, brasileiros e das línguas da Espanha. De 21 a 24 de Abril, o evento terá cerca de 800 participantes, segundo a organização, o que o torna o mais importante na história portuguesa das ciências da comunicação.

Eu assisti a parte significativa do congresso luso, aglutinando portugueses e brasileiros, e apresentei uma comunicação na mesa de Jornalismo, sobre Alberto Bessa e o seu livro de jornalismo, editado faz agora cem anos [a organização forneceu um CD-ROM, mas o meu texto não aparece. Sei que o enviei a 7 de Março, pelas 19:53, para o endereço electrónico da organização, mas esta deve ter-se aproveitado da minha momentânea desorganização e não o colocou. Mas prometo lutar pela sua publicação].

Do que vi e gostei

A comunicação de abertura de António Fidalgo, professor da Universidade da Beira Interior e responsável pela organização do congresso, foi vigorosa. Parte do seu discurso dirigiu-se para a Fundação da Ciência e Tecnologia, ali representada pela vice-presidente, que tomou muitas notas na ocasião. Referiu-se nomeadamente à questão dos júris de avaliação dos projectos e dos centros de investigação em ciências da comunicação. Se, até 2002, não havia um júri autónomo para a área, tal modificou-se o ano passado. Mas o júri foi constituído por investigadores oriundos do norte da Europa, alheios à realidade das línguas ibéricas. António Fidalgo pediu que o próximo júri tenha elementos das línguas da Península Ibérica, no que foi acarinhado pelos congressistas. Claro que não podemos escamotear a hegemonia dos falantes do inglês, pelo que deve haver uma ponderação de critérios.

Das comunicações em mesas que assisti quero salientar as de Paulo Ferreira e Silva, sobre imprensa regional portuguesa, e de Elizabeth Saad Correia, sobre linguagem da informação digital. Jornalista e a desenvolver uma tese de mestrado na Universidade do Minho sobre a imprensa regional, Paulo Ferreira e Silva demonstrou como pesam os actores nas decisões na imprensa regional. O seu estudo começa em 1974. Para o congressista, haver bons jornais de proximidade (regionais) quer dizer boa informação local. Há, neste momento, 30 diários e cerca de 900 títulos de imprensa local e regional, sendo 2/3 destes últimos subsidiados pelo Estado. O texto de Paulo Ferreira e Silva mergulharia, depois, na política do porte pago e considerou que este é um factor de constrangimento na evolução e desenvolvimento dos jornais, pois tem permitido a sobrevivência de muitos desses títulos.

A apresentação de Elizabeth Saad Correia partiu da análise feita aos sites noticiosos, concluindo que há uma inexistência de padrão editorial, independente da página corporativa, com diferentes hierarquias e emprego de fontes extra-redacção. Elizabeth Saad desvendou alguns dos pressupostos - o que entendemos por linguagem, o que é o campo do jornalismo - e encara que ainda vivemos num estágio de pré-amálgama entre meios e suportes, mas onde se mantêm os valores-notícia e a ética como elementos do ciberespaço mas se perderam já os parâmetros físicos da medição do tempo e do espaço jornalísticos. Elizabeth Saad Correia é professora livre-docente do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA, da Universidade de São Paulo, pesquisadora e consultora na área de comunicação digital, nomeadamente no blog Intermezzo. A docente e comunicadora lançou no congresso um livro seu, mas que me foi impossível assistir dado ter de vir para Lisboa, onde me esperava um compromisso profissional. Espero que tudo tenha corrido bem com ela.

* publicado por Rogério Santos em 23.04.2004



ENTRE 1981 e 2002, os 56 doutorados em Ciências da Comunicação em Portugal produziram no total seis artigos científicos na área da Comunicação referenciados nas bases de dados do Institute for Scientific Information, o mais credível registo da produção científica mundial. Ontem, na abertura do III congresso da SOPCOM, na Covilhã, o presidente do Congresso criticou a recente avaliação que foi feita aos centros desta área em Portugal: "António Fidalgo focou a ausência de tradição curricular nos cursos em debate, refutou as acusações dos que falam em excesso de teoria nesta ciência e acabou por questionar o motivo que levou a que a comissão que avaliou os oito centros de investigação em Ciências da Comunicação em 2003 tivesse sido constituída por um painel de investigadores do norte da Europa que não falavam nem entendiam português. 'Ora, se a produção científica em Ciências da Comunicação é quase na totalidade em português, como se pôde avaliar de forma objectiva e profunda o que as unidades fizeram?', perguntou, ao salientar que as classificações dadas não foram as esperadas e que o painel poderia ter sido presidido por investigadores lusófonos ou até espanhóis, que são os que estão mais próximos do que se faz em Portugal." Apesar de respeitar muito o António Fidalgo, não posso estar em mais desacordo com ele. Se os investigadores portugueses não conseguem publicar em revistas internacionais, nem atingir os patamares da ciência a sério, não é mudando os critérios de avaliação e escolhendo uns amigos para nos avaliar que alguma vez conseguiremos atingir a excelência. Para que fique claro, eu também nunca publiquei em revistas indexadas internacionalmente. Mas -- digamos o que dissermos, concordemos ou não com os seus critérios -- essa é a única forma de fazer Ciência com "c" maiúsculo.

* publicado por António Granado em 22.04.2004



Investigadores de Comunicação defendem coesão entre países Lusófonos e Ibéricos

A importância de uma maior coesão entre os países lusófonos e ibéricos no campo da investigação em ciências da comunicação e a necessidade de uma crescente internacionalização foi ontem destacada por vários intervenientes no arranque do III congresso da SOPCOM -Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação), o VI Lusocom (Federação das associações lusófonas de ciências da comunicação) e II Congresso Ibérico de Ciências da Comunicação, que este ano decorrem em simultâneo na Universidade da Beira Interior, na Covilhã.

Dica de Público

* publicado por JRP em 22.04.2004