A política do bota-abaixo
1.
Estado de penúria: défice monstruoso, desemprego crescente, sobrecarga de impostos, reforma pelas horas da morte. Criação de riqueza: zero. Fábricas que fecham todos os dias. Muitas outras em desesperado processo de endividamento, com meses e meses de salários em atraso. Um futuro cada vez mais negro para quem vive do seu trabalho. É assim nos texteis, no mobiliário e no calçado, mas também na metalo-mecânica, na construção. É assim em quase todas as actividades empresariais, excepto, claro está, nos bancos, nas seguradoras e em empresas afins. Os agentes económicos retraem-se e o Estado, que se pensaria especialmente vocacionado para acudir em momentos de crise como os que vivemos, mostra-se, afinal, completamente incapaz de inverter ou desviar o rumo dos acontecimentos.
2.
Mas não se chega a uma situação destas da noite para o dia. Seria, pois, rematada tolice ou cegueira política endossar as culpas a um Governo que tão recentemente entrou em funções. Tão pouco se deve agora exigir-lhe milagres quando, há que reconhecê-lo, vem governando em condições muito difíceis. O que se passa é que o Governo não tem dinheiro. Não tem dinheiro para assegurar os mínimos cuidados de saúde aos seus cidadãos. Não tem dinheiro para comparticipar no custo dos medicamentos. Não tem dinheiro para salvar vidas ameaçadas por intermináveis listas de espera pela operação. Dói o coração saber, por exemplo, que para algumas das pessoas que integram tais listas de espera, a morte pode chegar antes da sua vez de entrar no bloco operatório. Mas esse é o desumano preço do nosso atraso ou imprevidência. O que não se pode é exigir ao Governo que gaste o que não tem.
3.
O que se pode então exigir a um Governo em época de tão profunda crise? A meu ver, pode-se e deve-se exigir que se cinja às medidas prioritárias e que o faça no quadro de uma gestão muito ponderada e rigorosa. Mas, sobretudo, que se abstenha de atirar pela janela fora o pouco dinheiro que ainda lhe resta. Ora, salvo melhor opinião, um Governo que não tem dinheiro para construir os hospitais de que precisa, não pode fazer da destruição do Prédio Coutinho (ou de qualquer outro) um ponto de honra. Não pode enveredar por uma política de "bota-abaixo", de delapidação patrimonial, e ficar indiferente aos seus altos custos (financeiros e sociais). Não pode também ignorar o sinal de um despesismo supérfluo que é o que acaba por transmitir aos portugueses, justamente numa altura em que lhes pede para apertar o cinto.
4.
Não, a demolição do Prédio Coutinho não é apenas uma decisão arbitrária, uma birra ou capricho meramente estético dos seus defensores. É, antes de mais, um atentado contra as finanças do país, um capricho próprio de quem tem "bolsa de pobre e boca de rico" e até, aparentemente, um abuso de poder. Por isso, sim. Por isso deve o actual Governo ser responsabilizado o que, aliás, ou muito me engano, ou não tardará tanto como se pensa.
5.
Recuso-me a crer que a satisfação de Vital Moreira pela expropriação e demolição deste prédio, tenha unicamente a ver com a sua condição de declarado apoiante do actual Governo. Mas a verdade é que não consigo entender o que o terá levado a afirmar que "Por vezes a virtude triunfa, mesmo que com custos pesados para o erário público (lucros privados, custos públicos...). Virtude? Mas que virtude seria essa? A de criar "custos pesados para o erário público" só para fazer desparecer uma sombra ou alargar o alcance de um olhar? Se for essa a virtude, será caso para dizer: vivó luxo.
OBS:
a) Concretamente, que mal é que o Prédio Coutinho causou à cidade e à sua população ao longo de tantos anos já decorridos sobre a data em que foi edificado, para se tornar agora tão imperiosa a sua demolição? Ao fim de tanto tempo já deveria ser extensa a lista...
b) Se como o próprio professor reconhece "Infelizmente, há muitos prédios coutinhos por esse país fora", que razões levaram a considerar que o Prédio Coutinho é insuportável e os outros nao?
c) Declaração de interesses: não conheço ninguém que esteja minimamente ligado ao Prédio Coutinho.
Estado de penúria: défice monstruoso, desemprego crescente, sobrecarga de impostos, reforma pelas horas da morte. Criação de riqueza: zero. Fábricas que fecham todos os dias. Muitas outras em desesperado processo de endividamento, com meses e meses de salários em atraso. Um futuro cada vez mais negro para quem vive do seu trabalho. É assim nos texteis, no mobiliário e no calçado, mas também na metalo-mecânica, na construção. É assim em quase todas as actividades empresariais, excepto, claro está, nos bancos, nas seguradoras e em empresas afins. Os agentes económicos retraem-se e o Estado, que se pensaria especialmente vocacionado para acudir em momentos de crise como os que vivemos, mostra-se, afinal, completamente incapaz de inverter ou desviar o rumo dos acontecimentos.
2.
Mas não se chega a uma situação destas da noite para o dia. Seria, pois, rematada tolice ou cegueira política endossar as culpas a um Governo que tão recentemente entrou em funções. Tão pouco se deve agora exigir-lhe milagres quando, há que reconhecê-lo, vem governando em condições muito difíceis. O que se passa é que o Governo não tem dinheiro. Não tem dinheiro para assegurar os mínimos cuidados de saúde aos seus cidadãos. Não tem dinheiro para comparticipar no custo dos medicamentos. Não tem dinheiro para salvar vidas ameaçadas por intermináveis listas de espera pela operação. Dói o coração saber, por exemplo, que para algumas das pessoas que integram tais listas de espera, a morte pode chegar antes da sua vez de entrar no bloco operatório. Mas esse é o desumano preço do nosso atraso ou imprevidência. O que não se pode é exigir ao Governo que gaste o que não tem.
3.
O que se pode então exigir a um Governo em época de tão profunda crise? A meu ver, pode-se e deve-se exigir que se cinja às medidas prioritárias e que o faça no quadro de uma gestão muito ponderada e rigorosa. Mas, sobretudo, que se abstenha de atirar pela janela fora o pouco dinheiro que ainda lhe resta. Ora, salvo melhor opinião, um Governo que não tem dinheiro para construir os hospitais de que precisa, não pode fazer da destruição do Prédio Coutinho (ou de qualquer outro) um ponto de honra. Não pode enveredar por uma política de "bota-abaixo", de delapidação patrimonial, e ficar indiferente aos seus altos custos (financeiros e sociais). Não pode também ignorar o sinal de um despesismo supérfluo que é o que acaba por transmitir aos portugueses, justamente numa altura em que lhes pede para apertar o cinto.
4.
Não, a demolição do Prédio Coutinho não é apenas uma decisão arbitrária, uma birra ou capricho meramente estético dos seus defensores. É, antes de mais, um atentado contra as finanças do país, um capricho próprio de quem tem "bolsa de pobre e boca de rico" e até, aparentemente, um abuso de poder. Por isso, sim. Por isso deve o actual Governo ser responsabilizado o que, aliás, ou muito me engano, ou não tardará tanto como se pensa.
5.
Recuso-me a crer que a satisfação de Vital Moreira pela expropriação e demolição deste prédio, tenha unicamente a ver com a sua condição de declarado apoiante do actual Governo. Mas a verdade é que não consigo entender o que o terá levado a afirmar que "Por vezes a virtude triunfa, mesmo que com custos pesados para o erário público (lucros privados, custos públicos...). Virtude? Mas que virtude seria essa? A de criar "custos pesados para o erário público" só para fazer desparecer uma sombra ou alargar o alcance de um olhar? Se for essa a virtude, será caso para dizer: vivó luxo.
OBS:
a) Concretamente, que mal é que o Prédio Coutinho causou à cidade e à sua população ao longo de tantos anos já decorridos sobre a data em que foi edificado, para se tornar agora tão imperiosa a sua demolição? Ao fim de tanto tempo já deveria ser extensa a lista...
b) Se como o próprio professor reconhece "Infelizmente, há muitos prédios coutinhos por esse país fora", que razões levaram a considerar que o Prédio Coutinho é insuportável e os outros nao?
c) Declaração de interesses: não conheço ninguém que esteja minimamente ligado ao Prédio Coutinho.
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