08 dezembro 2005

O regresso das "forças de bloqueio"

Não tenho a menor dúvida de que o modo como o ministro da Justiça, Alberto Costa, foi recebido no VII Congresso dos Juízes, terá sido, no mínimo, descortês ou pouco educado, e logo por parte de uma classe tradicionalmente muito ciosa de se fazer respeitar. Foi, pois, com a maior naturalidade que li no Expresso da passada semana, a crítica de Fernando Madrinha ao comportamento dos senhores magistrados, em especial ao braço de ferro que vêm mantendo com o ministro, e que, no entender do prestigiado jornalista, só dificulta o diálogo que eles próprios reclamam. O que já me surpreendeu foi esta parte final do seu comentário:

E mais sublinham a ideia de que, no fundo, o que pretendem é impedir qualquer mudança na Justiça, ainda que dizendo o contrário. Ou, então, querem substituir-se ao próprio Governo no direito que lhe assiste, pela lei e pelo voto, de fazer as reformas que defende para o sector. Haverá algo de mais parecido com uma "força de bloqueio"?

Em que ficamos afinal? Depois de:

1) Quase crucificarem Cavaco Silva por um dia ter usado a expressão "forças do bloqueio".
2) O próprio já ter admitido que talvez não a devesse ter usado.
3) O candidato Manuel Alegre afirmar que dormirá descansado se Cavaco for eleito, só não quer é que ele continue a "ver" "forças de bloqueio" na sociedade portuguesa.

... eis que surge agora um jornalista tão qualificado como Fernando Madrinha a recuperar a famosa expressão de Cavaco, classificando os magistrados como "forças de bloqueio" ao Governo PS. É a vida, diria Guterres. Outros dirão: as voltas que a vida dá. Mas também não exageremos. Pode muito bem acontecer que se trate de mera oscilação semântica, tão frequente na apreciação política. O que me interrogo é se Cavaco Silva ainda precisaria de tão insuspeito apoio.


Publicado n'O Eleito.