28 setembro 2006

Retórica papista comparada

Falar dos outros

O que importa é que, para dar um exemplo da história, e no contexto de sensibilidades que hoje vivemos, em que nos bastam os conflitos que temos, o Papa escolheu falar dos outros e preferiu ignorar os erros da sua própria igreja, que se vão repetindo, de resto até hoje, e em nome da qual se fizeram, e ainda se fazem as guerras mais ignóbeis e injustas!

Faranaz Keshavjee, Membro da Comunidade Ismaelita
in Público, 18 Set 2006

O que é central e o que é secundário

Perguntar-se-á: mas não haveria outros teólogos que o Papa pudesse citar? Seguramente. E podemos mesmo discutir se optar por por citar a frase que originou a controvérsia - mesmo distanciando-se dela - não terá cometido um passo imprudente. Contudo a verdade é que se a nossa leitura não se ficar por essas linhas e se não as retirarmos do contexto, temos de lhes acrescentar o que o Papa explicitamente considerou como central no diálogo citado: "A frase decisiva nesta argumentação contra a conversão pela violência é: 'Agir de modo irracional é contrário à natureza de Deus'". Ora se esta é a "frase central", porque se centrou toda a discussão num extracto secundário? A resposta possível é que há muito jornalismo incendiário. Ou, no mínimo, irresponsável e preguiçoso.

José Manuel Fernandes, Director do Público
in Público, 18 Set 2006

Nada faria prever

Na sua conferência de Ratisbona, o Papa sabia exactamente o que queria dizer, mas ninguém pode hoje saber como vai ser ouvido. O ruído é, pela sua natureza, impossível de prever, caótico, e nem um Papa tem a omnisciência dos caminhos do acaso. Só se ficar calado. Basta ler e perceber a integralidade do texto para ser claro que nada da sua substância faria prever que suscitaria as reacções que teve.

José Pacheco Pereira, Historiador
in Público, 21 Set 2006

O que é bom é certamente cristão

Ratzinger poderia simplesmente dizer que aquilo que é bom é certamente cristão, e que o que não é cristão (e já agora católico) é certamente de desconfiar.Seria mais fácil, embora um pouco indigno do brilhante intelecto que se diz possuir.

Rui Tavares, Historiador
in Público, 23 Set 2006

O Papa não foi feliz

A pergunta que se põe é a seguinte: atendendo à crispação actual entre muçulmanos e ocidentais, mais por motivos políticos do que religiosos, a citação que o Papa fez do imperador bizantino sobre Maomé não foi um acidente académico perigoso para a ideologia muçulmana dos nossos dias? Em meu entender, o Papa não foi feliz.

Pe Joaquim Carreira das Neves
in Expresso, 23 Set 2006