12 março 2007

O chumbo da "neutralidade"

"Foi um grande desfecho, de todos os pontos de vista, menos um.
Faço 5 registos. A justeza da CMVM, que enquadrou a operação. A mestria da equipa de Granadeiro, que defendeu as acções da PT. A vitória de certos accionistas privados, que votaram contra. O desamparo de pequenos accionistas, que não se fizeram ouvir. O rasgo de Paulo e Belmiro Azevedo, que lançaram a memorável OPA.
E um 6.º registo. No dia do chumbo da OPA, veio um ministro dizer que o Governo tinha sido "neutral".

Vejamos. O Governo tinha acções da PT, umas privilegiadas, que usou às claras para se abster, e outras ordinárias, por via de um ente público, que usou, mas às ocultas, para votar contra. Como quem atira a pedra e esconde a mão.
Em matérias politicamente tão relevantes, das duas uma, ou aquele ente público vota como o Governo quer (querer tácito ou explícito), ou a sua administração se demite. Falar em 'neutralidade' não é eufemismo, é disfarce.
Em causa está o nome das coisas. Porque, definitivamente, o chumbo da OPA também foi político. Foi-o, dizendo-se que o não foi, em estilo pinoquiano, que não chega a ser furtivo nem elegante.
Quem assim faz na OPA, como fará na OTA, cujas dúvidas são mais do que muitas?"


Miguel Cadilhe, Expresso, 10 Março 2007