Da iminência à ilusão
Há nesta nova iminência (que se actualiza para além do tempo em que se processou o acontecimento) um pasmo inenarrável, porventura semelhante ao que outros media terão causado no momento em que abruptamente surgiram (a fotografia e o cinematógrafo face aos seus primeiros espectadores). A grande diferença é que, hoje em dia, deixámos de ter tempo para nos prepararmos para a actualidade. A interpretação quase deixou de ser uma aprendizagem: entre as imagens e o pasmo e, por sua vez, entre o pasmo e as imagens passou a existir uma distância ínfima. Uma película imperceptível. Ou seja, quando as imagens nos invadem, inevitavelmente já desencadeiam pasmo e quando o pasmo nos povoa - como se fosse um alívio - apenas só já desejamos entregar o corpo e a imaginação ao fluxo das imagens.
Luis Carmelo no Miniscente
Tem toda a razão Luis Carmelo quando ilustra as novas condições de recepção da actualidade com o “tempo da iminência”. E o ponto é que as imagens e o pasmo de que nos fala, na ausência de mediação hermenêutica, podem facilmente cair no domínio da pura ilusão. Dir-se-á que a ilusão não é mais do que uma imitação da realidade. Mas é precisamente por ser imitação que nos pode iludir. Sem interpretação, as imagens oferecem-se ainda (e apenas) como sub-produto da “brutalidade” perceptiva. Colin McGinn - para quem a consciência nos põe em contacto apenas com os seus próprios conteúdos funcionando como um “jogo de imagens numa televisão mental” – sustenta que não há qualquer diferença subjectiva entre a percepção ilusória e a percepção real, por exemplo, “entre o punhal alucinado de Macbeth e um verdadeiro punhal” e que, por isso mesmo, as ilusões podem ser tão assustadoras como as coisas reais. É quanto basta para que o “tempo da iminência” que Luis Carmelo associa aos novos media (a começar pelo YouTube) - e que direi, invariavelmente, surge como consequência directa de uma sobrepercepcionada recepção – deva merecer a atenção da ciências da comunicação e, em particular, dos estudos retórico-mediáticos.
Luis Carmelo no Miniscente
Tem toda a razão Luis Carmelo quando ilustra as novas condições de recepção da actualidade com o “tempo da iminência”. E o ponto é que as imagens e o pasmo de que nos fala, na ausência de mediação hermenêutica, podem facilmente cair no domínio da pura ilusão. Dir-se-á que a ilusão não é mais do que uma imitação da realidade. Mas é precisamente por ser imitação que nos pode iludir. Sem interpretação, as imagens oferecem-se ainda (e apenas) como sub-produto da “brutalidade” perceptiva. Colin McGinn - para quem a consciência nos põe em contacto apenas com os seus próprios conteúdos funcionando como um “jogo de imagens numa televisão mental” – sustenta que não há qualquer diferença subjectiva entre a percepção ilusória e a percepção real, por exemplo, “entre o punhal alucinado de Macbeth e um verdadeiro punhal” e que, por isso mesmo, as ilusões podem ser tão assustadoras como as coisas reais. É quanto basta para que o “tempo da iminência” que Luis Carmelo associa aos novos media (a começar pelo YouTube) - e que direi, invariavelmente, surge como consequência directa de uma sobrepercepcionada recepção – deva merecer a atenção da ciências da comunicação e, em particular, dos estudos retórico-mediáticos.
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