29 abril 2007

A retórica do "julgamento político"

Para justificar a referência que fez ao passado de Paulo Portas como ministro de Estado e da Defesa, nomeadamente, ao facto de não ter apresentado nessa altura a proposta de alteração de debate que agora subscreveu, o melhor que o primeiro-ministro José Sócrates conseguiu adiantar foi que "há um julgamento político que tem de ser feito" sobre esse passado.

Ora este expediente argumentativo, notoriamemente inscrito na chamada retórica negra, não é mais do que uma tentativa de desviar o debate para o passado, quando é o presente que está em discussão. Porque se "há um julgamento político que tem de ser feito" é sobre o actual governo e não sobre os anteriores que já se submeteram ao que, em democracia, ainda é o julgamento dos julgamentos: a avaliação eleitoral. Numa comunidade devidamente informada, nenhuma retórica pode apagar um facto, nem substituir-se ao efectivo governo, nem fazer passar por racional o mero ataque à pessoa. Será preciso, um dia destes, lembrar isso mesmo ao nosso primeiro-ministro?