28 abril 2007

Maquiavel em Democracia (2)

Estaline em particular, bem mais que Hitler, mantinha os seus colaboradores sob um estreito controlo e expurgava continuamente as fileiras; a incondicional dedicação dos seus colaboradores não fazia diminuir nem a sua desconfiança nem a sua crueldade. Para ele nada era indiferente; qualquer iniciativa, qualquer palavra, qualquer silêncio era catalogado, analisado e interpretado. No Estado policial mais poderoso e mais organizado da História, tudo era do conhecimento do chefe supremo. Tudo, mesmo os factos mais inofensivos, tinha um significado cuja apreciação reservava para si e cujas consequências só ele tirava, por vezes muito tempo depois.
Nas democracias, os processos são diferentes mas a inspiração é a mesma. É devido ao cuidado posto nos pormenores que o poder se conquista e se conserva. No seio do partido, que é o veículo da sua ambição, o político terá de organizar as redes de influência, terá de repartir os lugares pelos mais fiéis, terá de satisfazer as ambições julgadas úteis e terá de se organizar na base de clientes solícitos e totalmente dedicados por esperarem retirar, também eles, algum benefício do poder. Alargará essa mesma tarefa, tanto quanto for possível, em todos os sectores da sociedade; na imprensa, nos sindicatos, nas organizações, nas empresas e em toda a espécie de associações, religiosas, sociais, culturais e outras. É uma tarefa que nunca termina.


Edouard Balladur,(2006), Maquiavel em Democracia, Cruz Quebrada: Casa das Letras/Editorial Notícias, pp. 95-96


Nas democracias, os processos são diferentes mas a inspiração é a mesma...