20 abril 2008

Cavaco elogia obra para não falar do autor


Cavaco sabe que Jardim foi longe de mais, quando muito "respeitosamente" o tratou por sr. Silva.

Cavaco sabe que Jardim foi longe de mais, quando chamou de "bando de malucos" aos deputados da oposição na Madeira.

Cavaco sabe que Jardim foi longe de mais, quando o impediu, é o termo, de ser recebido pela Assembleia Legislativa, em sessão plenária.

Sabendo Cavaco tudo isto (mais o que agora não vem ao caso) fica a sensação de que também ele foi longe de mais ao remeter casos de grosseiro desrespeito das instituições e dos titulares de cargos políticos para o baú do mero (e desculpável) estilo. Não que se questione o invocado direito à reserva em nome da eficácia política, mas porque nem tal direito é ilimitado nem a tanto obrigaria. Um coisa é evitar a condenação pública que sempre pode incendiar ainda mais os ânimos, outra, bem diferente, é engolir sapos vivos e, mesmo assim, ficar tecendo os maiores elogios. Razão tem
Vital Moreira quando, por analogia, pergunta:

"Se porventura um primeiro-ministro da República se referisse aos deputados nacionais da oposição como 'bando de malucos' e a AR como lugar de má reputação, será que o PR consideraria isso tolerável?"

Quanto à (não) ida à Assembleia Legislativa,
Medeiros Ferreira já disse tudo: "É inconcebível que [o PR] tenha aceite essa diminuição do seu papel e o do parlamento".

Novidade, novidade, é Cavaco ter recorrido à retórica do elogio à obra para não falar do autor. Nada mau para quem ainda há tempos punha a retórica na prateleira das inutilidades.