20 agosto 2003

A "anti-retórica" de Platão

SÓCRATES para CÁLICLES:

"...se concordares comigo sobre as opiniões da minha alma, é porque essas opiniões são verdadeiras"

"... sempre que concordares comigo em relação a um ponto da nossa discussão, considerá-lo-emos suficientememnte provado e não teremos de o submeter a novo exame"

"...o nosso acordo significará, portanto que atingimos a verdade"


in Platão, (1991), GORGIAS, Lisboa: Edições 70, pp. 123-124


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Ao preconizar este "critério de verdade" (um acordo a dois), não estará aqui Platão a rivalizar com os retóricos do seu tempo e até com os próprios sofistas que tanto criticava? Pois é: "no melhor pano cai a nódoa... ". E, descontado o exagero, alguma razão poderá ter tido Isócrates na sua afirmação de que "os demais filósofos, incluindo Platão, não passariam de sofistas pouco sérios." (*)

* Sousa, A., (2000), A Persuasão, Covilhã: Editora da Universidade da Beira Interior, p. 14