Ethos & Palavra de honra
Pacheco Pereira levanta a questão: "Eu, quando ouço alguém dizer que dá a sua “palavra de honra”, aceito-o, mas isso também são hábitos pré-burocráticos".
O Latinista Ilustre concorda mas acrescenta que "o bom nome e a honra impoluta ainda tem valor de prova".
Pacheco Pereira, reconhecendo esse valor de prova da "palavra de honra", clarifica: "Um homem que dá a sua palavra de honra é como um homem que jura: as suas palavras valem mais do que palavras, são um acto decisivo em que ele coloca como penhor de si próprio, e da veracidade do que diz, a sua identidade. É um acto grave e sem retorno."
***
Na medida em que nos remete para a apreciação da credibilidade, esta questão da palavra de honra tem a ver, como se sabe, com o chamado ethos retórico. Há contudo aqui uma situação muito especial a considerar. É que com o apelo retórico ao ethos (carácter e credibilidade) pretende-se, regra geral, despertar uma tal confiança no orador que leve o auditório a dar a devida atenção aos seus argumentos e a reconhecer-lhe autoridade na matéria. Mas tudo isso, note-se, apenas como complemento da força persuasiva da sua argumentação e dos factos que a sustentam.
Ora o recurso à palavra de honra ocorre num contexto completamente diferente em que não há argumentos nem factos suficientemente probatórios para exibir. Logo, a palavra da pessoa é mesmo a única coisa (a última) de que ela dispõe para se fazer acreditar. Em termos argumentativos, é, reconheçamos, uma situação dramática. Trata-se de um caso-limite em que o auditório é chamado a equacionar os prós e os contras.
Do lado dos "contras", temos que a pessoa que dá a sua palavra de honra pode estar a mentir, pode simplesmente estar errada (sem disso ter consciência) ou possuir um entendimento sobre a honra diferente do que tem o destinatário da sua declaração. Do lado dos "prós", temos que, por norma, só recorre à palavra de honra que ainda a tem (a honra), que a pessoa sabe que se for desmascarada perderá toda a credibilidade e também o facto de só ser necessário invocar a palavra de honra quando não há provas objectivas, concretas e inequívocas a apresentar (para acusar ou para defender).
Pacheco Pereira diz "Eu sou da escola em que se acredita quando alguém fala assim". E, pela minha parte, estou também convencido de que a crença na palavra de honra é a posição mais consentânea com o princípio da presunção de inocência. Só não me atrevo a defender que tudo dependa de "alguem me falar assim". Até porque, na nossa vida prática, nenhum de nós se poderia dar ao luxo de fazer as suas inferências com base apenas no que o outro lhe diz. É a vida.
O Latinista Ilustre concorda mas acrescenta que "o bom nome e a honra impoluta ainda tem valor de prova".
Pacheco Pereira, reconhecendo esse valor de prova da "palavra de honra", clarifica: "Um homem que dá a sua palavra de honra é como um homem que jura: as suas palavras valem mais do que palavras, são um acto decisivo em que ele coloca como penhor de si próprio, e da veracidade do que diz, a sua identidade. É um acto grave e sem retorno."
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Na medida em que nos remete para a apreciação da credibilidade, esta questão da palavra de honra tem a ver, como se sabe, com o chamado ethos retórico. Há contudo aqui uma situação muito especial a considerar. É que com o apelo retórico ao ethos (carácter e credibilidade) pretende-se, regra geral, despertar uma tal confiança no orador que leve o auditório a dar a devida atenção aos seus argumentos e a reconhecer-lhe autoridade na matéria. Mas tudo isso, note-se, apenas como complemento da força persuasiva da sua argumentação e dos factos que a sustentam.
Ora o recurso à palavra de honra ocorre num contexto completamente diferente em que não há argumentos nem factos suficientemente probatórios para exibir. Logo, a palavra da pessoa é mesmo a única coisa (a última) de que ela dispõe para se fazer acreditar. Em termos argumentativos, é, reconheçamos, uma situação dramática. Trata-se de um caso-limite em que o auditório é chamado a equacionar os prós e os contras.
Do lado dos "contras", temos que a pessoa que dá a sua palavra de honra pode estar a mentir, pode simplesmente estar errada (sem disso ter consciência) ou possuir um entendimento sobre a honra diferente do que tem o destinatário da sua declaração. Do lado dos "prós", temos que, por norma, só recorre à palavra de honra que ainda a tem (a honra), que a pessoa sabe que se for desmascarada perderá toda a credibilidade e também o facto de só ser necessário invocar a palavra de honra quando não há provas objectivas, concretas e inequívocas a apresentar (para acusar ou para defender).
Pacheco Pereira diz "Eu sou da escola em que se acredita quando alguém fala assim". E, pela minha parte, estou também convencido de que a crença na palavra de honra é a posição mais consentânea com o princípio da presunção de inocência. Só não me atrevo a defender que tudo dependa de "alguem me falar assim". Até porque, na nossa vida prática, nenhum de nós se poderia dar ao luxo de fazer as suas inferências com base apenas no que o outro lhe diz. É a vida.
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