03 dezembro 2003

Coragem, esperança, medo

Lê-se no Abrupto:

"Nem esperança , nem medo"... "Sem medo"... "a verdadeira coragem está no "sem esperança", ser capaz de não ter esperança, de viver sem esperança, aí­ sim é difí­cil (...)"

Coragem, esperança, medo... três palavras (e outros tantos conceitos) que bem servem à  causa de uma nobre ideia: a de que não devemos traficar as convicções. O mesmo é dizer que, em matéria de conhecimento, nenhum desconforto psicológico ou espiritual poderá justificar um atentado à lucidez. Porque a mentira não é mais desculpável quando o mentiroso mente a si próprio. Outra coisa será a de admitir que o viver sem esperança é um acto corajoso. Tenho as minhas dúvidas. Por exemplo: aqueles para quem a verdade seja o principal valor-referência da sua vida, provavelmente precisariam de coragem para o contrário, isto é, para assumir uma esperança que não fosse racionalmente suportada. Por outro lado, é discutível que alguém viva completamente sem esperança. Em última análise, quem não a tenha, pode muito bem alimentar a ideia de vir a tê-la. Mas ainda que não redunde em verdadeiro acto de coragem, viver sem esperança é, seguramente, um viver mais exigente (ou mais penoso). Um caminho difícil, mas ainda não só possí­vel como o mais indicado, sempre que de examinada convicção resulte.