11 agosto 2004

Excertos de um livro não anunciado (197)

Caracterizada por Perelman como “uma relação de participação, assente numa visão mítica ou especulativa de um todo do qual símbolo e simbolizado fazem igualmente parte” (*), a ligação simbólica é uma outra estrutura argumentativa fundada no real de forte potencial persuasivo. Basta atentar no sentido injurioso de que geralmente se reveste o acto de queimar em público a bandeira de determinado país. Como o são igualmente os argumentos de dupla hierarquia, tanto de natureza quantitativa como qualitativa. Os primeiros estarão presentes quando, por exemplo, do “facto de um homem ser maior do que outro se conclui que as suas pernas são também mais compridas” (**)e os segundos, que Perelman considera serem os mais interessantes, têm lugar quando da superioridade de um fim se conclui pela superioridade do meio que o permite realizar. É o que se passa quando a superioridade do adulto sobre a criança leva a que esta seja confrontada muitas vezes com a recomendação: “porta-te como um adulto!”.

(*) Perelman, C., (1993), O Império Retórico, Porto: Edições ASA, p. 115
(**) Idem p. 116