23 setembro 2004

Retórica da clonagem-2

Há o medo horrível de sermos todos clones uns dos outros. Isso é um enorme disparate, baseado num medo primário. (...) a única crítica que faço à clonagem é que, tecnicamente, ainda estamos muito longe de a conseguir fazer. A minha objecção é, por isso, técnica e não ética. [Um clone] é uma cópia genética, mas é um indivíduo completamente diferente (...) O facto de serem iguais geneticamente não faz com que sejam a mesma pessoa.

Alexandre Quintanilha

(Revista Nova Gente, da semana passada)


Eu acho que a Igreja não se deve opor à investigação científica. Não concordo com a clonagem humana e quem me tem influenciado nesta matéria são os cientistas. Contudo, por exemplo, aprendi que do ponto de vista terapêutico determinados órgãos clonados têm uma finalidade. Nesse caso, estou perfeitamente de acordo.

D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas

(na Focus de 15.09.2004)


Não sei o que merecerá mais realce: se o optimismo científico de Alexandre Quintanilha, se a visão progressita de D. Januário Torgal Ferreira. O primeiro, chegando ao ponto de temer mais a clonagem cultural do que da clonagem genética. O segundo, abrindo caminho para que a Igreja venha a aceitar a chamada clonagem terapêutica. Subsiste, é certo, uma profunda divergência quanto à clonagem reprodutiva. Mas até quando? Nâo virá a ser a própria clonagem reprodutiva, muito em breve, olhada apenas como mais um modo de reprodução humana? Precisamos de nos inteirar sobre o que está em jogo, que valores deverão ser prioritariamente defendidos e, principalmente, saber se em algum caso a humanidade ficará exposta a abusos ou manipulações que possam conduzir à sua própria auto-destruição. Nesse sentido, é de enaltecer a entrevista agora concedida pelo cientista Alexandre Quintanilha à revista Nova Gente num sinal claro de que a divulgação científica em portugal quer mesmo chegar a todas as camadas da população. Muito bem.