Coitadinho do leitor
O João Miranda tem toda a razão quando diz que é um bocado trapalhão o texto desta Nota da Direcção do Público sobre a falsa-notícia "Cavaco aposta em maioria absoluta de Sócrates". Mas eu vou mais longe: trata-se de uma pecinha retórica sem pés nem cabeça que ofende o mero bom senso do leitor. E senão vejamos:
A notícia do PÚBLICO, que procurava enquadrar a recusa de seu envolvimento nesta disputa eleitoral relacionando-a com as eventuais ambições presidenciais, vinha a ser trabalhada há várias semanas e resultou do cruzamento de várias fontes
Mas que notícia? Procurar “enquadrar” uma qualquer “recusa de envolvimento” não é, mais exactamente, um exercício de opinião? O que a “falsa-notícia” do Público dá a saber nem é notícia, nem opinião. Ou é erro indesculpável ou grosseira manipulação do leitor. Daí a surpresa: foram mesmo precisas várias semanas para fazer uma “bacorada” destas? O Público é um grande jornal (de referência) e não pode dar-se ao "luxo" de cometer deslizes destes porque, como bem salienta Pacheco Pereira, "isto não é jornalismo sério", ao que acrescentarei que, se não é jornalismo sério então, obviamente, não é jornalismo. Mas o episódio é mais lamentável do que parece à primeira vista. Porque mais grave do que a avulsa “falsa-notícia” é a despudorada iniciativa de vir no dia seguinte confirmá-la e até sublinhar o seu efeito de choque com comentários do género de “A notícia de ontem do PÚBLICO deixou em estado de choque vários dirigentes e candidatos a deputados”. É assim mesmo. O "bom" vendedor nunca diz mal da sua mercadoria. Mais grave ainda: só ao terceiro dia é que a Direcção do jornal veio reconhecer que “a notícia permitia um desmentido nos termos do de ontem”. Note-se, de resto, como parece aqui implícita a sugestão de que uma notícia pode muito bem ser falsa desde que não permita um desmentido. É caso para dizer: coitadinho do leitor.
as convicções jornalísticas sobre as suas intenções ou desejos, mesmo as melhor fundamentadas, devem ser apenas objecto de textos de análise ou de comentário. Ao fazer delas título de primeira página o PÚBLICO errou. Pelo facto pede desculpa aos leitores.
Ou seja: o Publico reconhece que errou apenas ao trazer as convicções jornalísticas para título de primeira página. E é disso, e só disso, que pede desculpa aos leitores. Só que esta emenda é pior do que o soneto. Primeiro, porque o disparate está no conteúdo da “falsa-notícia” e não apenas no seu título. Segundo, porque o que foi desmentido por Cavaco Silva foi a própria afirmação em que se traduz o título e não o específico lugar ou página em que este foi publicado já que, como é evidente, a falsidade do título em questão não desaparece pelo simples mudar de página. Claro que a Direcção do jornal sabe de tudo isto, mas, na linha da própria “falsa-notícia” desculpa-se apenas por ter chamado a título de primeira página uma “convicção jornalística”. Como que se tratasse de um mero erro técnico quando o que está em causa é uma óbvia falha ética. Mas o que é grave não é que a Direcção se tenha furtado a apresentar um pedido de desculpa nos devidos termos. O que é grave é que ao fazê-lo tão parcial e formalmente, age como quem, no fundo, continua consciente de que o Jornal não errou (*) e lança umas palavras a abater, só para calar a onda de reacções negativas que a “falsa-notícia” suscitou. Isso é que é grave.
(*) O mesmo se diga das jornalistas em causa, que continuam escudadas no mais cúmplice dos silêncios.
A notícia do PÚBLICO, que procurava enquadrar a recusa de seu envolvimento nesta disputa eleitoral relacionando-a com as eventuais ambições presidenciais, vinha a ser trabalhada há várias semanas e resultou do cruzamento de várias fontes
Mas que notícia? Procurar “enquadrar” uma qualquer “recusa de envolvimento” não é, mais exactamente, um exercício de opinião? O que a “falsa-notícia” do Público dá a saber nem é notícia, nem opinião. Ou é erro indesculpável ou grosseira manipulação do leitor. Daí a surpresa: foram mesmo precisas várias semanas para fazer uma “bacorada” destas? O Público é um grande jornal (de referência) e não pode dar-se ao "luxo" de cometer deslizes destes porque, como bem salienta Pacheco Pereira, "isto não é jornalismo sério", ao que acrescentarei que, se não é jornalismo sério então, obviamente, não é jornalismo. Mas o episódio é mais lamentável do que parece à primeira vista. Porque mais grave do que a avulsa “falsa-notícia” é a despudorada iniciativa de vir no dia seguinte confirmá-la e até sublinhar o seu efeito de choque com comentários do género de “A notícia de ontem do PÚBLICO deixou em estado de choque vários dirigentes e candidatos a deputados”. É assim mesmo. O "bom" vendedor nunca diz mal da sua mercadoria. Mais grave ainda: só ao terceiro dia é que a Direcção do jornal veio reconhecer que “a notícia permitia um desmentido nos termos do de ontem”. Note-se, de resto, como parece aqui implícita a sugestão de que uma notícia pode muito bem ser falsa desde que não permita um desmentido. É caso para dizer: coitadinho do leitor.
as convicções jornalísticas sobre as suas intenções ou desejos, mesmo as melhor fundamentadas, devem ser apenas objecto de textos de análise ou de comentário. Ao fazer delas título de primeira página o PÚBLICO errou. Pelo facto pede desculpa aos leitores.
Ou seja: o Publico reconhece que errou apenas ao trazer as convicções jornalísticas para título de primeira página. E é disso, e só disso, que pede desculpa aos leitores. Só que esta emenda é pior do que o soneto. Primeiro, porque o disparate está no conteúdo da “falsa-notícia” e não apenas no seu título. Segundo, porque o que foi desmentido por Cavaco Silva foi a própria afirmação em que se traduz o título e não o específico lugar ou página em que este foi publicado já que, como é evidente, a falsidade do título em questão não desaparece pelo simples mudar de página. Claro que a Direcção do jornal sabe de tudo isto, mas, na linha da própria “falsa-notícia” desculpa-se apenas por ter chamado a título de primeira página uma “convicção jornalística”. Como que se tratasse de um mero erro técnico quando o que está em causa é uma óbvia falha ética. Mas o que é grave não é que a Direcção se tenha furtado a apresentar um pedido de desculpa nos devidos termos. O que é grave é que ao fazê-lo tão parcial e formalmente, age como quem, no fundo, continua consciente de que o Jornal não errou (*) e lança umas palavras a abater, só para calar a onda de reacções negativas que a “falsa-notícia” suscitou. Isso é que é grave.
(*) O mesmo se diga das jornalistas em causa, que continuam escudadas no mais cúmplice dos silêncios.
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