28 fevereiro 2005

O regresso de Marcelo

Não gostei da "aparição" de Marcelo no seu regresso à TV. Nem do "programa", nem de Marcelo Rebelo de Sousa, nem de... Ana Sousa Dias.

Não gostei do "programa", porque num espaço de análise da realidade, do mundo e da vida, não parece fazer muito sentido aquela "defesa do Papa" em toda a linha, fundada unicamente no refúgio de um "eu sou crente". Do professor espera-se um sólido comentário analítico e não uma confissão de fé. E ontem, além do mais, faltou distância, faltou argumento, faltou... racionalidade.

Não gostei de Marcelo Rebelo de Sousa, porque esteve muito abaixo das suas anteriores prestações televisivas, pouco à vontade com as "tímidas" mas persistentes observações de Ana Sousa Dias (que pareciam cortar-lhe o torrencial raciocínio) e sempre a "fugir" aos mais controversos assuntos da actualidade política. Um bom exemplo: a sua recusa em emitir um juízo sobre as duas actuais candidaturas à presidência do PSD. Serviu esta recusa, porém, para ilustrar o desconforto que a militância partidária traz a todo o comentador político ou, mais exactamente, o patamar de incompatibilidade que poderá existir entre as duas funções. Porque se um político sempre pode fugir a comentar seja o que for com o argumento de que não é comentador, já um comentador não pode recusar (ou adiar) o seu comentário com o argumento (implícito) de que... também é político.

Não gostei de Ana Sousa Dias, porque foi uma sombra da magnífica jornalista e entrevistadora que já todos conhecemos. A culpa maior terá sido do professor que quase não lhe deixou abrir a boca de tão entusiasmado que estava com aquilo que tinha para dizer. O que também se compreende. O professor confessou que se "prepara" para o programa, logo, é natural que se esforce por seguir a mesma linha expositiva que já trará estudada. Mas é urgente alterar o figurino ou, pelo menos, o papel dos dois figurantes (no bom sentido). Claro que aquele é um "tempo de antena" do professor Marcelo. São os seus comentários que suscitam uma grande audiência. Mas das duas, uma: ou o professor apresenta ele próprio a sua análise, cara a cara com o telespectador ou aceita a "condução" jornalística de Ana Sousa Dias (ainda que com regras previamente combinadas). Ou seja, vale tudo, menos o que se viu nesta primeira "aparição": a jornalista a perguntar e a fazer observações (pertinentes), e o "entrevistado" a fugir às perguntas ou a ignorar as observações, quem sabe, até, a fingir que não as ouviu. O que surpreende ainda mais quando se trata, como é o caso, de uma jornalista que reconhecidamente tem o dom de saber ouvir e de não interromper o curso do raciocínio aos entrevistados. A culpa maior terá sido então do professor, mas passará a ser partilhada pela própria Ana Sousa Dias se consentir que a sua participação no programa seja reduzia a um papel meramente decorativo.

Aditamento:

"As escolhas de Marcelo"??? E por que não chamar-lhe "O monólogo de Marcelo"? Pergunta Maria José Oliveira (mjo) do Glória Fácil. E pergunta bem.