26 junho 2005

A (in)segurança do aeródromo de Espinho

Num país onde por muito discutíveis ou mal explicadas razões se embarga uma obra tão importante como esta, como é possível autorizar e permitir (já lá vão algumas décadas) que as pistas do aeródromo de Espinho sejam literalmente atravessadas por uma estrada aberta à circulação automóvel?

Devo dizer que há vinte anos atrás percorri essa estrada pela primeira vez e logo fiquei estupefacto por, a certa altura, me dar conta de que estava a atravessar livremente um aeródromo. Tudo o que havia no local era uma placa estática com um aviso mais ou menos equivalente ao "Pare, Escute e Olhe" muito vulgarizado pelos Caminhos de Ferro. E nada mais. Por mera casualidade, passei por lá, de novo, há pouco mais de um mês e verifiquei, para meu espanto, que a situação continua rigorosamente igual.

Neste quadro, pode dizer-se que a segurança de cada condutor fica "nas mãos" dos pilotos das avionetas e estes, por sua vez, sujeitam-se ao maior ou menor grau de sensibilidade ao risco por parte de cada condutor que atravesse o aeródromo. Imagino, por isso, que o dia a dia naquelas imediações se assemelhe a um verdadeiro e leviano jogo de sorte e de azar que, por certo, nem os automobilistas nem os pilotos gostariam de ter de jogar.

Hoje o jogo foi de azar, de muito azar mesmo. Ao cair da noite, choque brutal de uma avioneta contra um carro que circulava pela insólita estrada. Morreu o condutor, carbonizado no interior do veículo. Ficou gravemente ferido o piloto da avioneta. E tudo porque a grosseira desatenção das entidades a quem cabe a prevenção e segurança do aeródromo e da fatídica estrada, fez impender sobre condutor e piloto um daqueles riscos que manifestamente, não vale a pena correr. O mínimo que agora se exije é, portanto, apurar as responsabilidades e corrigir o erro. Imediatamente.