23 junho 2005

O lado erístico da argumentação

"No âmago disto tudo está, parece-me, a decandência do debate intelectual, em particular, a valorização que se dá à provocação. Provocar é, desde há uns tempos, considerado como uma forma elevada de debate. A provocação, deixem-me dizer, é a mais baixa forma de discussão, pois faz depender o prosseguimento de um argumento não do seu mérito ou valor intrínseco mas do efeito primário que se sabe que determinada afirmação terá no interlocutor, por fraqueza específica, particular, deste. Uma provocação é eficaz, portanto, não porque é inteligente ou pertinente no ambito do tema que se está a discutir, mas simplemente por ferir o advesário no seu ponto irracional mais fraco. A provocação tem por objectivo obrigar o outro a responder-nos directamente, pelo caminho que nós indicámos e que supostamente nos interessa, não a discutir o problema que está em cima da mesa pelos múltiplos caminhos que se nos deparam, que são não só os nossos mas também os da pessoa que está à nossa frente. Esta forma de fascismo argumentativo está hoje em dia elevado à forma de arte, e não estou a estou a ver enfraquecer, muito pelo contrário."

in A CAUSA FOI MODIFICADA, post "Tiago Monteiro", 21.06.2005