10 julho 2005

Excerto de um livro não anunciado (246)

Reconheçamos antes de mais que, como sustenta Olivier Reboul, “se um argumentação é mais ou menos desonesta, não é porque seja mais ou menos retórica. Caso contrário Platão, cujos textos são infinitamente mais retóricos, pelo conteúdo oratório, que os de Aristóteles, seria menos honesto que este!”(*). O facto da retórica se situar no mundo do razoável, do preferível, não significa qualquer desprezo pela verdade, pelo contrário, por ela se orienta e para ela caminha, no seio de uma discutibilidade onde “são elaboradas, precisadas e purificadas as verdades, que constituem apenas as nossas opiniões mais seguras e provadas” (**). A eventual desonestidade da retórica terá, pois, de ser imputada apenas aos seus agentes. Defender o contrário, seria o equivalente a pretender que todo o objecto cortante é um instrumento de agressão. Uma falácia, portanto.

(*) Reboul, A ., (1998), Introdução à retórica, S. Paulo: Martins Fontes, p. 99
(**) Perelman, C., (1997), Retóricas, S. Paulo: Martins Fontes, p. 367