Ter razão antes do tempo?
A propósito do braço-de-ferro entre a Ministra da Educação e os Sindicatos dos Professores diz Fernando Madrinha no Expresso desta semana que é mais fácil argumentar quando se tem razão e esse é o caso da ministra e não dos sindicatos.
Não tenho opinião formada quanto às culpas no cartório de uma ou de outra parte nem isso vem ao caso. O que no âmbito deste blogue mais me chama a atenção é o facto de Fernando Madrinha ter recorrido à duvidosa e injustificada premissa de que É mais fácil argumentar quando se tem razão.
A afirmação tem, admito, notória força persuasiva mas não resiste a um olhar mais atento. É que dizer que alguém tem razão mesmo antes de argumentar será sempre um procedimento auto-desqualificador para quem o diz, na medida em que toma antecipadamente como certo precisamente o que a argumentação visava provar.
Erro semelhante é o de se classificar a qualidade de uma argumentação em função do valor da causa, considerando que a argumentação “justa” é aquela que defende uma causa “justa”. Como diz Olivier Reboul, é o mesmo que “julgar antes do processo, eleger antes da campanha eleitoral, saber antes de aprender. Não existe dogmatismo pior” (*). Daí que, na argumentação, ninguém possa ter razão antes do tempo.
(*) Olivier Reboul, (1998), Introdução à retórica, S. Paulo: Martins Fontes, p. 99
Não tenho opinião formada quanto às culpas no cartório de uma ou de outra parte nem isso vem ao caso. O que no âmbito deste blogue mais me chama a atenção é o facto de Fernando Madrinha ter recorrido à duvidosa e injustificada premissa de que É mais fácil argumentar quando se tem razão.
A afirmação tem, admito, notória força persuasiva mas não resiste a um olhar mais atento. É que dizer que alguém tem razão mesmo antes de argumentar será sempre um procedimento auto-desqualificador para quem o diz, na medida em que toma antecipadamente como certo precisamente o que a argumentação visava provar.
Erro semelhante é o de se classificar a qualidade de uma argumentação em função do valor da causa, considerando que a argumentação “justa” é aquela que defende uma causa “justa”. Como diz Olivier Reboul, é o mesmo que “julgar antes do processo, eleger antes da campanha eleitoral, saber antes de aprender. Não existe dogmatismo pior” (*). Daí que, na argumentação, ninguém possa ter razão antes do tempo.
(*) Olivier Reboul, (1998), Introdução à retórica, S. Paulo: Martins Fontes, p. 99
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