14 janeiro 2006

Excerto de um livro não anunciado (280)

Antes de mais, porque é o próprio Perelman quem reconhece a presença da emoção e até da sugestão na própria relação argumentativa, como se pode confirmar por esta sua passagem na Retóricas, onde depois de observar que a área da argumentação retórica não pode ser reduzida nem ao argumento lógico nem à sugestão pura e simples, caracteriza deste modo os dois possíveis caminhos de investigação: “A primeira tentativa consistiria evidentemente em fazer da argumentação retórica uma lógica do provável (....) a segunda tentativa consistiria em estudar os efeitos sugestivos produzidos por certos meios verbais de expressão...” (*). Tratando-se, provavelmente, da sua mais explícita aceitação da emocionalidade que os argumentos provocam no auditório, não é, porém, a única. Já no seu Tratado de Argumentação admitira que “a intensidade da adesão que se tem de obter não se limita à produção de resultados puramente intelectuais, ao facto de declarar que uma tese parece mais provável que outra, mas muitas vezes será reforçada até que a acção, que ela deveria desencadear, tenha ocorrido” (**). Ou seja, não só a argumentação produz determinadas alterações emocionais no auditório, como tais alterações são voluntariamente provocadas, quando o orador as considere necessárias para obter a adesão à respectiva tese ou proposta.

(*) Chaim Perelman, (1997), Retóricas, S. Paulo: Martins Fontes, p. 82
(**) Chaim Perelman, (1999), Tratado da Argumentação, S. Paulo: Martins Fontes, p. 55