31 janeiro 2006

A revolta dos militantes

"Por exemplo se tivesse havido 'primárias' dentro do PS para a escolha do candidato presidencial a apoiar, seguramente que se teria evitado a cisão que ocorreu no partido e no eleitorado socialista sobre o assunto"

Vital Moreira, hoje no Público.

Por exemplo. Mas talvez nem fosse preciso chegar a tanto. É que, mesmo sem "primárias", se José Sócrates tivesse submetido a sua escolha a prévia reflexão e debate no seio do PS, em vez de impor, como impôs, a sua vontade pessoal a todo o partido, qualquer que fosse o escolhido (Soares, Alegre ou outro) teria certamente uma votação mais expressiva do que aquela que o próprio Manuel Alegre obteve.

A "derrota" do PS, perdão, do candidato do PS, começou por aí. Atirados para a margem e sem voto na matéria quanto à escolha do candidato a apoiar pelo partido, os militantes e simpatizantes do PS terão visto na candidatura de Manuel Alegre a possibilidade de mostrar um "cartão amarelo" a Sócrates (mais do que a Soares) e, muito importante, sem precisarem de trair o seu ideário socialista. Foi, por assim dizer, uma autêntica revolta dos militantes.

Nesse sentido, a "derrota" não terá sido do PS - que logo reagrupará as suas forças - mas do seu secretário-geral. Foi este que falhou em toda a linha com uma estratégia político-eleitoral que, ainda que circunstancialmente, só lançou confusão e dividiu o partido. Até que ponto tão notório fracasso descapitalizou a sua liderança é o que falta saber.