23 maio 2006

O sonho de uma mulher

(...) há já alguns dias que faço o IC19 para lá e para cá ao som, mas sobretu­do à letra, de uma única música do último disco de Rui Ve­loso - "Recado a Rosana Arquete". Nem sei muito bem quem a dita Rosana é, mas o que importa é que é actriz, e bonita, daquelas que os homens queriam ter em calendário na por­ta da garagem. Os homens todos não! O herói desta história está tão apaixonado pelo "seu amor" de carne e osso, que quan­do vai ao cinema ver a dita Rosana no grande ecrã, em lu­gar de se deslumbrar dá logo pelo "embuste". É que a sujeita comete um plágio, rouba o andar da namorada dele: "Ve­jam como ela se esforça por imitar o meu amor, vejam como não disfarça nem o mínimo pudor." A pobre da Rosana dá o seu melhor, reconhece-o, mas conclui que, "por muito que ela cultive essas poses e esses ares, é visível que não lhe che­ga,nem sequer aos calcanhares" Tem pinta não tem? Imaginar uma criatura que em lugar de ficar hipnotizada pela es­trela principal a considera apenas um pálido reflexo da sua "estrela". É mesmo o SONHO de qualquer mulher, suspeito eu. Mas o herói de Carlos Tê não se limita a constatar o roubo, está disposto a agir. Em lugar de encolher os ombros, amea­ça a vedeta: "Vou acusar-te de plágio, vou meter-te, um pro­cesso, o andar do meu amor paga direitos de autor." Única de­silusão: o nome, a morada e o número de telefone deste ra­paz pronto a ir a tribunal para fazer valer a honra da sua amada não vem no livrinho anexo. E, pensando bem, não valia de nada: o que seria o nosso andar ao lado do dela...

Isabel Stilwell, Notícias Magazine, 21 Maio 2006


E agora, toca a comprar o CD...