17 junho 2006

A retórica na advocacia

Acabou o mundo da advocacia vibrante no Tribunal da Boa Hora. A advocacia baseada na retórica, em alegações que eram autênticas peças literárias e que foi protagonizada por advogados como Salgado Zenha ou Palma Carlos nos tribunais plenários. "Perderam-se duas artes", concorda José António Barreiros. "A arte da retórica e a de saber escrever".

in Público, 15 Junho 2006

E ainda bem, dirão alguns, pelo menos, no que à retórica respeita. Mas esquecem-se que quando se trata de mostrar o justo e o injusto não chega estar do lado certo. É preciso também promover a melhor compreensão possível dos factos ou acontecimentos, dos interesses, do contexto e do isto e aquilo que faz a singularidade da situação particular. Não, não basta ter a razão do nosso lado. É ainda necessário persuadir quem nos escuta (ou quem nos lê) sobre a bondade do nosso ponto de vista. E precisamente porque a opinião dos outros conta, é que vale a pena investir no melhor argumento e na arte de o compor e bem dizer. É esse o contributo que a retórica pode dar a uma advocacia que, para além do seu estrito domínio técnico e previsível, ouse perseguir a afirmação de uma ideia de justiça.