07 outubro 2006

Abaixo de qualquer suspeita

Quantos dos melhores alunos que todos os anos saem das faculdades conseguem colocação num órgão de comunicação social? E quantos filhos, primos, enteados, sobrinhos, amigos de jornalistas o conseguem, mesmo que sejam estudantes calaceiros de comunicação ou que nem sequer tenham cursado a matéria?

José Carlos Gomes, Comentários do Jornalismo e Comunicação, 26 Set 2006

Que a cultura da exigência é, entre nós, sistematicamente atraiçoada pelos laços familiares, pelo amiguismo, pela troca de favores, não será propriamente novidade. Mas como combater tal estado de coisas se os "escolhidos" sempre se refugiam no argumento de que não podem ser prejudicados só por serem filhos (netos, sobrinhos, amigos, etc.) de quem são (como ainda recentemente sucedeu com a filha do ex-Presidente da República) e os "escolhedores", por sua vez, declaram a sua "escolha" como a mais indicada e mais competente para o lugar?

Claro que sempre se pode dar essa (fantástica?) coincidência. No jornalismo, na política ou em qualquer outra actividade. Ainda assim, não seria mais prudente evitar a dúvida que fatalmente irá ficar no ar? A decisão cabe a cada um. Mas a responsabilidade pela eventual suspeita pública, também. Pena é que não tenhamos ainda o jornalismo de investigação que a opacidade política, económica e jurídica em que vivemos, exigiria.