22 outubro 2006

Lógica e o universo da argumentação

Foi o título da conferência que o filósofo Desidério Murcho fez na passada quinta feira, na Covilhã, a convite do Instituto de Filosofia Prática, da Universidade da Beira Interior.

Sublinhe-se a oportunidade e o interesse desta iniciativa do IFP, tanto mais que, como reconheceu um professor da UBI, "a tradicional formação humanística dos filósofos continentais deixa-os desmunidos para acompanhar os avanços contemporâneos de uma lógica que se tem desenvolvido bem mais perto de um certo espírito científico ou de uma tradição filosófica que até há bem pouco tempo era estranha deste lado do canal da Mancha". De parabéns estão, portanto, os Professores José António Domingues e André Barata e demais colaboradores.

A conferência propriamente dita, não poderia ter corrido melhor. Numa linguagem clara mas sempre muito rigorosa, Desidério Murcho foi expondo e esclarecendo, um a um, os principais aspectos lógicos da argumentação, com especial incidência no capítulo da avaliação dos argumentos. Recorrendo a inúmeros exemplos, analisou os principais tipos de argumentos bem como as centrais noções de solidez e de validade, esta última quer na perspectiva da lógica formal quer do ponto de vista da lógica informal (aqui, como se sabe, ainda bastante disputada). Por último enunciou as três condições a que um bom argumento (ou argumento cogente) deve obedecer: 1- Validade; 2-Premissas verdadeiras; 3-Premissas mais plausíveis que a conclusão.


E seria precisamente a noção de plausibilidade que mais viria a animar o vivo debate que se seguiu. Tudo porque a admissão de que tal plausibilidade depende dos agentes (auditório) deixa no ar a hipótese de a avaliação dos argumentos se subordinar sempre a um critério extra-lógico. Hipótese que serve aqui, sobretudo, para mostrar a atitude de grande abertura e espírito crítico que Desidério Murcho manteve no decorrer da sua conferência. Falou de soluções, esclareceu dúvidas, corrigiu erros mas sempre sem ignorar os problemas e as questões em aberto. A meu lado, já no final, um aluno de filosofia fazia a grande síntese: "até que enfim que tenho alguém que me explica a lógica de uma maneira que eu perceba".