A loucura da guerra
Dá que pensar o email que a 22 de Junho deste ano, Robert Secher, capitão dos Marines em missão no Iraque, dirigiu ao seu pai, a propósito de dois grupos de fuzileiros que foram acusados de assassínio. O meu destaque vai para esta passagem:
"Olá , Pai, depois de ler o meu último 'e-mail', não quero que penses que eu tolero as acções dos fuzileiros e se na verdade forem culpados, devem ser responsabilizados e punidos. A minha intenção foi dizer que esta é a realidade da guerra. Isto é o que a guerra faz a jovens normais. Isto é a tragédia da guerra. As pessoas apressam-se a criticar os fuzileiros e a demonizar estes jovens. Eu tenho pena deles. As suas vidas foram arruinadas pelas suas acções, que são julgadas por homens que nunca estiveram nessas situações"
in Expresso, 11 Nov 2006
Retenho estas últimas palavras de Robert Secher: "acções, que são julgadas por homens que nunca estiveram nessas situações". Que nunca estiveram na guerra, portanto.
Não é fácil falar da guerra sem a ter vivido. Não é fácil mesmo para quem por lá andou. Porque a guerra, toda a guerra, é a desumanização em pessoa. É uma ruptura na humanidade do guerreiro. Que o descaracteriza, que lhe rouba a identidade, que diminui a sua autonomia moral. Pode não beliscar quem a ordena, mas sempre animaliza quem a trava. Numa luta de vida ou de morte, nem o imperativo da causa nem o instinto de sobrevivência consentem a mínima garantia ética. E depois, a sociedade não pode exigir o mínimo respeito pelo outro, a quem treinou para matar. A guerra é a maior loucura do homem. Daí que, talvez só um louco, verdadeiramente louco, a pudesse julgar.
"Olá , Pai, depois de ler o meu último 'e-mail', não quero que penses que eu tolero as acções dos fuzileiros e se na verdade forem culpados, devem ser responsabilizados e punidos. A minha intenção foi dizer que esta é a realidade da guerra. Isto é o que a guerra faz a jovens normais. Isto é a tragédia da guerra. As pessoas apressam-se a criticar os fuzileiros e a demonizar estes jovens. Eu tenho pena deles. As suas vidas foram arruinadas pelas suas acções, que são julgadas por homens que nunca estiveram nessas situações"
in Expresso, 11 Nov 2006
Retenho estas últimas palavras de Robert Secher: "acções, que são julgadas por homens que nunca estiveram nessas situações". Que nunca estiveram na guerra, portanto.
Não é fácil falar da guerra sem a ter vivido. Não é fácil mesmo para quem por lá andou. Porque a guerra, toda a guerra, é a desumanização em pessoa. É uma ruptura na humanidade do guerreiro. Que o descaracteriza, que lhe rouba a identidade, que diminui a sua autonomia moral. Pode não beliscar quem a ordena, mas sempre animaliza quem a trava. Numa luta de vida ou de morte, nem o imperativo da causa nem o instinto de sobrevivência consentem a mínima garantia ética. E depois, a sociedade não pode exigir o mínimo respeito pelo outro, a quem treinou para matar. A guerra é a maior loucura do homem. Daí que, talvez só um louco, verdadeiramente louco, a pudesse julgar.
<< Home