06 dezembro 2006

jornalismo com letra pequena

Na sua edição de hoje, o JN orgulha-se da revista "Notícias de Sábado" andar nas bocas do mundo e de ter ganho “uma repentina fama internacional”. Tudo porque a NS do passado sábado incluía um texto com diversas frases da actriz Gwyneth Paltrow, entre aspas e sem qualquer citação da respectiva fonte, de modo a criar a aparência de que se tratava de uma autêntica entrevista. A “obra” foi de tal modo urdida e resultou tão perfeita que enganou até os próprios responsáveis da revista “People”, a ponto, de tentarem junto da NS comprar o respectivo artigo que conteria uma polémica “declaração” da actriz à publicação portuguesa: a de que “Os britânicos são muito mais inteligentes e civilizados do que os americanos”.

Evidentemente que à NS saiu o título pela culatra e por certo que não era bem desta fama que estaria à espera. É que perante a proposta de compra da People a NS teve que “abrir o jogo” e reconhecer que não houve entrevista nenhuma à actriz. O que houve então? Meras citações, segundo anuncia hoje o JN. Não se estranhe, por isso, que este jornal venha agora dizer que os homens da “People” confundiram a simples citação com um entrevista exclusiva e que quando a actriz afirmou ontem em comunicado que não deu qualquer entrevista à NS isso “acaba por corresponder à verdade”. Mas o problema é que se eram citações deveria ter sido indicada a sua fonte, o que não foi feito. É claro que a indicação da fonte iria anular imediatamente o efeito da pseudo novidade das ditas declarações e destruir também, por completo, a aparência de que se tratava de uma entrevista. Mas não seria transparência a mais? E depois, quem poderia imaginar que o “surripiar” da fonte fosse enganar não só o comum dos leitores como os colegas de profissão da “People”? Correu tudo mal, foi o que foi.

Conclusão: a "Notícias de Sábado" errou.

1) errou por ter dado a aparência de entrevista actual a um conjunto de citações de frases proferidas pela actriz há quase um ano atrás.


2) errou por esconder dos leitores que tas citações tinham como fonte a revista Star.

O Jornal de Notícias andou ainda pior ao dar cobertura a tão notória manipulação jornalística, gizando a esfarrapada desculpa da citação (pudera, a falsa entrevista já fora desmascarada) e regozijando-se com a “fama internacional” da NS. Como que para o JN mais importante do que ser honesto e transparente com o leitor seja que muitos falem de si ou das publicações que lhe estão associadas, mesmo que pelas piores razões. Teria sido bem mais nobre reconhecer o erro em vez de o ignorar. Mas acima de tudo, seria bom que o JN não confundisse credibilidade internacional com má fama internacional, que é o mais que a NS pode ter angariado neste seu caso com a actriz Gwyneth Paltrow e a revista People.
O JN, o grande JN, tem obrigação de saber disso.