19 fevereiro 2007

Excerto de um livro não anunciado (364)

Seja, porém, qual for o desfecho desta polémica, notemos que ela se centra muito mais sobre a causa primeira da hipnose do que nas condições e factores que lhe dão origem, para além de igualmente não questionar a positividade dos seus efeitos. Estes últimos viriam mesmo a ser devidamente certificados, em 1959, quando a Comissão da British Medical Association estabeleceu a seguinte definição:

[A hipnose é] ...um estado passageiro de atenção modificada no sujeito, estado que pode ser produzido por uma outra pessoa e no qual diversos fenómenos podem aparecer espontaneamente ou em resposta a estímulos verbais ou outros. Estes fenómenos compreendem uma modificação da consciência e da memória, uma susceptibilidade acrescida à sugestão e o aparecimento no sujeito de respostas e ideias que não lhe são familiares no seu estado de espírito habitual (*)
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Se atentarmos bem nesta insuspeita definição, não poderemos deixar de descortinar uma assinalável semelhança entre a descrição nela contida e o que em grande parte se passa no processo de persuasão inerente a toda a situação retórica. É que, como diz Mambourg, “toda a interacção entre duas pessoas conduz a uma modificação do estado de consciência e a respostas diversas e imprevisíveis como o riso, o choro, a cólera, a empatia, os envolvimentos públicos ou secretos, o sofrimento, o prazer, etc.” (**)

(*) Chertok, L. (1989), L’hypnose, Paris: Éditions Payot, p. 32
(**) Mambourg, P.-H., "Du rôle de l’hypnose dans la formation des thérapeutes", in Michaux, D. (Org.), (1998), Hypnose, Langage et Communication, Paris: Editions Imago, p. 209