13 março 2007

A cultura no palco do consumo

Da esquerda para a direita: representante do Corte Inglés, João Pereira Coutinho, Luis Carmelo e Manuel Fonseca (Editora Guerra e Paz)

Foi hoje ao cair da tarde, no Corte Inglés, de Gaia. João Pereira Coutinho na apresentação do mais recente livro de Luis Carmelo, "E Deus pegou-me pela cintura". Uma coisa bonita de se ver. Ainda não li o livro mas a apresentação de Coutinho foi, em si mesma, uma verdadeira peça literária. Com o brilho de sempre, falou bem, muito bem. Primeiro porque fala sempre bem, mesmo quando diz mal. Depois, porque admira o autor, de quem é, aliás, amigo. E por último, porque a dizer bem o levou o livro de Carmelo, que não se cansou de elogiar. O autor - que falou a seguir - não fugiu à circunstancial humildade de considerar que Coutinho fora excessivamente generoso. Saí de lá, porém, com a impressão de que Coutinho teve foi a perfeita noção de que não estava ali para criticar o livro de Carmelo mas sim para apresentá-lo. Não cometeu, por isso, o grosseiro erro de certos apresentadores de livros que em vez de enaltecerem os pontos fortes da obra ficam escrutinando página a página, frase a frase, à procura de um ponto que poderia ter sido mais desenvolvido mas não foi, de um sentido que o texto poderia ter mas não tem, enfim, de uma outra obra que o autor poderia ter escrito mas não escreveu. Ao invés, recorreu a preciosas citações para deixar clara a mestria literária com que Carmelo combinou memória e invenção neste seu décimo livro. Um livro que, anunciou Coutinho e confirmou o autor, se oferece a diferentes leituras que vão muito para além dele. Vim de lá com a ideia de que este novo romance de Carmelo acompanha o inquieto vaivém dos nossos dias feito de incursões mais ou menos efémeras, ora na ficção ora no real, e se possível, em ambos. Certo, certo, porém, é que fiquei com uma vontade enorme de me atirar à sua leitura. Não é a isto que se chama uma apresentação de livro bem sucedida?