12 outubro 2007

A contabilidade dos socos e das escapadelas

Manuel António Pina, no JN de ontem, comentando a desastrada entrevista que monsenhor Luciano Guerra, reitor do Santuário de Fátima, deu à revista Pública do passado sábado:
Estando eu casado vai para 40 anos, estarei a dever, pelas contas de monsenhor Luciano Guerra, reitor do Santuário de Fátima, 13 socos à minha mulher. Em bom rigor talvez não seja bem uma dívida, pois parece que, teologicamente, não serei obrigado a bater-lhe; é antes aquilo que em Direito se chama de "obrigação natural". As contas vêm numa entrevista que monsenhor dá à última NS: “Há o individuo que bate na mulher todas as semanas e há o indivíduo que dá um soco na mulher de três em três anos". O problema da mulher que leva todas as semanas fica a aguardar melhor prova. Já quanto a saber se socos de três em três anos, ou "agressões pontuais", justificarão o divórcio, o piedoso sacerdote não tem dúvidas: "Eu, pelo menos, se estivesse na parte da mulher que tivesse um marido que a amava verdadeiramente no resto do tempo, achava que não". O problema não está, pois, em o marido dar uns socos ou uns pontapés à mulher (ou a mulher ao marido), está "no resto do tempo". E o mesmo se poderá provavelmente dizer de outras violações dos deveres conjugais. Uma escapadela de três em três anos ficará assim ressalvada se o marido (ou a mulher) "amar verdadeiramente" o cônjuge no "resto do tempo", ou, pelo menos, quando não está no motel com a (ou com o) amante.