05 dezembro 2007

O empréstimo virtuoso

Não parece que Pacheco Pereira tenha razão quando condena a aprovação do hiper-empréstimo à Câmara de Lisboa com o argumento de que isso irá contribuir para o seu cada vez maior endividamento (*). É tudo ao contrário: o endividamento deu-se antes do empréstimo e, ao ponto a que a situação chegou, só o empréstimo pode permitir uma saída honrosa perante os credores. É este carácter virtuoso do empréstimo que faz dos inerentes encargos um mal menor.

Escandaloso é que se passe uma esponja sobre a ruinosa gestão que terá conduzido a este estado da dívida e que, aparentemente, ninguém esteja muito interessado em apurar responsabilidades. Assim como também não percebo o que tem o PS, o PSD ou qualquer outro partido a ver com a actual calamidade financeira da Câmara de Lisboa. A gestão camarária, antes de ser camarária é gestão. E a gestão tem regras prudenciais muito objectivas, muitas das quais matematicamente formuladas, que nenhuma opção política ou ideológica pode desqualificar. Ignorá-las é apostar no mais irresponsável aventureirismo, seja qual for a bandeira partidária que o acolha.

Daí que, diferentemente do que defende Pacheco Pereira, o empréstimo não comprometa o futuro da Câmara de Lisboa, antes o liberte da asfixia financeira de um passado que, tudo leva a crer, em breve tornaria a Câmara ingovernável. Sejamos rigorosos: António Costa tem de fugir é das dívidas e não dos empréstimos que as permitem saldar.

(*) Como acabou de fazer no "Quadratura do Círculo" de hoje