Impressão de liberdade
"Como pode haver liberdade, se a coberto do anonimato, dos pseudónimos ou da insuficiente identificação do autor, qualquer um pode dizer o que quiser sobre outrem, sem haver forma de o responsabilizar? Porque é que eu, ao escrever aqui, estou sujeito, e bem, a todo o tipo de escrutínio e responsabilidade profissional, penal e cível, e o tipo que escreve na net as maiores calúnias e falsidades passa incólume, em nome da liberdade de expressão?"
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 17 Maio 2008
Liberdade de expressão ou impressão de liberdade? Não me parece que "o tipo que escreve na net as maiores calúnias e falsidades" o faça ao abrigo da liberdade de expressão ou que por tal motivo seja tolerado. Pelo contrário, será por ter consciência de que não pode caluniar livremente que ele se refugia no anonimato. O problema não está, porém, em recorrer ao anonimato. Mesmo fora do computador, todos os dias falamos com imensas pessoas que ignoram completamente a nossa identidade e daí não vem mal algum ao mundo. Cumprimentamos, metemos dois dedos de conversa e, por vezes, até, fazemos amizades de anos e anos, sem que do outro saibamos mais do que um primeiro nome. Se é António ou Verónica, pouco importa. O que importa é o "histórico" da respectiva relação. E não há crise. Porque haveria de haver no chamado virtual? Não, o problema não está no anonimato mas sim na pessoa que a ele recorre com a deliberada intenção de ofender ou difamar. É aqui que Miguel Sousa Tavares tem toda a razão. A blogosfera e a net em geral são hoje verdadeiros territórios de impunidade, instâncias privilegiadas para levar a cabo os chamados assassínios de carácter. E o que me espanta é que, a este nível, tudo continue igual ao que sempre foi. Até porque, segundo julgo saber, em boa verdade não existe absoluto anonimato em nenhum lugar da net. Por onde quer que "andemos" deixamos sempre rasto e a todo o momento a nossa "máquina" pode ser identificada. Há-de haver, por isso, uma solução técnica para o problema e estou certo que mais dia menos dia surgirá. Mas até lá, vigiemos de perto esta impressão de liberdade que tantas vezes se faz passar por liberdade de expressão.
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 17 Maio 2008
Liberdade de expressão ou impressão de liberdade? Não me parece que "o tipo que escreve na net as maiores calúnias e falsidades" o faça ao abrigo da liberdade de expressão ou que por tal motivo seja tolerado. Pelo contrário, será por ter consciência de que não pode caluniar livremente que ele se refugia no anonimato. O problema não está, porém, em recorrer ao anonimato. Mesmo fora do computador, todos os dias falamos com imensas pessoas que ignoram completamente a nossa identidade e daí não vem mal algum ao mundo. Cumprimentamos, metemos dois dedos de conversa e, por vezes, até, fazemos amizades de anos e anos, sem que do outro saibamos mais do que um primeiro nome. Se é António ou Verónica, pouco importa. O que importa é o "histórico" da respectiva relação. E não há crise. Porque haveria de haver no chamado virtual? Não, o problema não está no anonimato mas sim na pessoa que a ele recorre com a deliberada intenção de ofender ou difamar. É aqui que Miguel Sousa Tavares tem toda a razão. A blogosfera e a net em geral são hoje verdadeiros territórios de impunidade, instâncias privilegiadas para levar a cabo os chamados assassínios de carácter. E o que me espanta é que, a este nível, tudo continue igual ao que sempre foi. Até porque, segundo julgo saber, em boa verdade não existe absoluto anonimato em nenhum lugar da net. Por onde quer que "andemos" deixamos sempre rasto e a todo o momento a nossa "máquina" pode ser identificada. Há-de haver, por isso, uma solução técnica para o problema e estou certo que mais dia menos dia surgirá. Mas até lá, vigiemos de perto esta impressão de liberdade que tantas vezes se faz passar por liberdade de expressão.
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