02 maio 2008

Solidariedade e Retórica

A convite do Presidente do Conselho Nacional de Governadores, António Sousa Rocha, fui no passado domingo dizer umas palavras à XXXIX Convenção Nacional dos “Lions Clubs” (*) que decorreu no anfiteatro do Casino de Espinho.

Registando e agradecendo, desde já, o interesse com que a minha intervenção foi escutada, mais o vivo debate que se lhe seguiu, transcrevo aqui a parte onde comecei por mostrar a estreita ligação que existe entre solidariedade, comunicação e retórica:

Não se fazendo por decreto nem podendo ser imposta em nome de nenhum credo ou convicção alheia, a solidariedade brota do interior de cada um, enquanto sentimento genuíno de atenção ao outro que faz elevar um “eu” à condição de um “nós”. Mas solidariedade é também uma arte, a arte de criar e de manter uma relação de complementaridade, sem aquele egoísmo e aquela agressividade que tantas vezes estão presentes nas relações de concorrência ou de antagonismo. É, por isso, uma arte difícil, complexa, que requer apurada observação e experiência, sensibilidade e lucidez e, em qualquer caso, algum estudo. Porque ser solidário é, cada vez mais, não apenas uma intenção ou vontade, não apenas uma missão ou projecto, mas também uma competência: a competência de ser solidário. E é nessa competência para ser solidário que se inscreve a necessidade de uma boa comunicação ou, para ser mais exacto, de uma boa retórica. Porque agora já não basta comunicar informação, é preciso comunicar também opinião: a opinião com que estruturamos as propostas ou pedidos que queremos ver aprovados pelo interlocutor. Já não se trata então de apenas comunicar mas, também, de persuadir, de levar alguém a compreender a nossa ideia, a simpatizar connosco, a aceitar o nosso pedido. Precisamos agora de descobrir as melhores razões, os melhores argumentos, os melhores exemplos, as melhores estratégias argumentativas. Precisamos, direi, de convocar a retórica que é, desde Aristóteles, a arte de descobrir o meio mais adequado em cada caso para persuadir.

(*) Os Lions Clubs foram em Julho do ano passado classificados como a melhor ONG do mundo, pelo influente jornal económico Financial Times e por mais duas organizações ligadas ao desenvolvimento internacional, à globalização e à legitimação social dos negócios e dos mercados: Dalberg e United Nations Global Compact.