28 novembro 2008

O que a falta de retórica faz

Pode ser que Manuela Ferreira Leite se mantenha por mais algum tempo na liderança partidária, já que, por esta ou por aquela razão - ou, talvez mais exactamente, por este ou aquele interesse – não falta quem se mostre disposto a “levá-la ao colo”, tudo lhe desculpando (até a candidatura de Santana a Lisboa). Seja como for, é muito triste ver uma reconhecida autoridade técnica a desperdiçar o seu talento em tarefas de liderança e comunicação para as quais manifestamente não foi talhada.

É claro que à actual líder da oposição restaria sempre a estratégia do exemplo, ou até do modelo, para persuadir onde a pobreza de palavra tolhe a eficácia do argumento. Mas essa é uma estratégia que requer poder, o poder de fazer, um poder que está confiado a quem governa. À líder da oposição sobra apenas um poder mitigado, que na prática, se confunde com os actos da fala - analisar, criticar, sugerir, propor, prometer, garantir, etc. – os quais, por força da sua natureza, apelam para um sólido e eficaz discurso persuasivo.

Ora o drama é que Manuela Ferreira Leite não está nada à vontade no exercício desse poder do discurso. É preciso arrancar-lhe as palavras. E o que fala, regra geral, parece um penoso ditado, um ditado que traz já escrito, como aquele que ainda hoje a vi a ler perante as câmaras. Um ditado de frases feitas, de generalizações, de banalidades. Um ditado sem convicção, sem chama, sem vida. Uma tristeza. Sim, é-lhe reconhecida uma superior competência técnica nas matérias da sua especialização profissional (economia, finanças, etc.) mas como diria André de Rezende, de que serve o muito saber a quem permanece incapaz de o dizer?