Já
Cavaco já reconhece que teve acções da SLN
(Título na pág. 2, primeiro caderno, Expresso de 05 de Jun 2009)
Repare-se na força noticiosa deste "já" e na função estratégico-pragmática que lhe cabe ao nível da formação de sentido do próprio título. Título que, note-se, já reproduziria a verdade dos factos se o "já" lá não estivesse. Mas para o Expresso, pelos vistos seria pouco dizer apenas essa verdade, dizer apenas, por exemplo, "Cavaco reconhece que teve acções da SLN". O Expresso achou que deveria dizer também o que não disse mas terá querido dizer. Ora o que é que o Expresso realmente terá querido dizer com esse "já"?
Que Cavaco "já" reconhece:
1) o que não reconhecia?
2) o que não queria reconhecer?
3) o que não queria reconhecer mas deveria ter reconhecido?
4) o que não queria mas foi agora forçado a reconhecer?
5) o que sempre negou?
Não se sabe. E esse é o lado mau da ambiguidade, do implícito, da mensagem "indirecta". Não se sabe o que é, mas sabe-se que tudo ou quase tudo pode ser. O lado bom é o de permitir chamar a atenção para a necessidade de escrutínio público seja do que for, mesmo quando a prova formal é difícil ou até mesmo impossível. Neste caso do Expresso, porém, é o próprio director que nos socorre quando na página seguinte relata os cuidados que o jornal teve, nomeadamente, o de todas as vezes terem dado conhecimento antecipado à Presidência da Republica dos factos que iam publicar e de nunca terem recebido qualquer resposta. O director do jornal deixa ainda muito claro que os factos não foram noticiados por serem ilegais ou irregulares, pois não o são, mas sim, por o jornal os considerar politicamente relevantes.
"Tenho o maior respeito pelo Presidente da Republica", diz Henrique Monteiro, e digo-o eu, também, que nele sempre votei, do que não estou nada arrependido. Mas, evidentemente que as coisas são como são, independentemente dos nossos afectos ou preferências políticas. Logo, aquele "já" no título do Expresso desta semana, a que acima me refiro, tem a sua razão de ser e quererá por certo alertar-nos para futuros desenvolvimentos a que não será alheio o conhecimento de que a SLN não estava cotada em Bolsa e que, precisamente por isso, a compra e venda tinha de passar por uma decisão do ex-presidente Oliveira Costa. Que foi quem foi e é quem é. Ora é sabido que as pessoas nem tudo podem dizer, mas tudo podem pensar. Não seria, por isso, mais vantajoso para todos esclarecer tudo, de uma só vez e, se possível, já?
(Título na pág. 2, primeiro caderno, Expresso de 05 de Jun 2009)
Repare-se na força noticiosa deste "já" e na função estratégico-pragmática que lhe cabe ao nível da formação de sentido do próprio título. Título que, note-se, já reproduziria a verdade dos factos se o "já" lá não estivesse. Mas para o Expresso, pelos vistos seria pouco dizer apenas essa verdade, dizer apenas, por exemplo, "Cavaco reconhece que teve acções da SLN". O Expresso achou que deveria dizer também o que não disse mas terá querido dizer. Ora o que é que o Expresso realmente terá querido dizer com esse "já"?
Que Cavaco "já" reconhece:
1) o que não reconhecia?
2) o que não queria reconhecer?
3) o que não queria reconhecer mas deveria ter reconhecido?
4) o que não queria mas foi agora forçado a reconhecer?
5) o que sempre negou?
Não se sabe. E esse é o lado mau da ambiguidade, do implícito, da mensagem "indirecta". Não se sabe o que é, mas sabe-se que tudo ou quase tudo pode ser. O lado bom é o de permitir chamar a atenção para a necessidade de escrutínio público seja do que for, mesmo quando a prova formal é difícil ou até mesmo impossível. Neste caso do Expresso, porém, é o próprio director que nos socorre quando na página seguinte relata os cuidados que o jornal teve, nomeadamente, o de todas as vezes terem dado conhecimento antecipado à Presidência da Republica dos factos que iam publicar e de nunca terem recebido qualquer resposta. O director do jornal deixa ainda muito claro que os factos não foram noticiados por serem ilegais ou irregulares, pois não o são, mas sim, por o jornal os considerar politicamente relevantes.
"Tenho o maior respeito pelo Presidente da Republica", diz Henrique Monteiro, e digo-o eu, também, que nele sempre votei, do que não estou nada arrependido. Mas, evidentemente que as coisas são como são, independentemente dos nossos afectos ou preferências políticas. Logo, aquele "já" no título do Expresso desta semana, a que acima me refiro, tem a sua razão de ser e quererá por certo alertar-nos para futuros desenvolvimentos a que não será alheio o conhecimento de que a SLN não estava cotada em Bolsa e que, precisamente por isso, a compra e venda tinha de passar por uma decisão do ex-presidente Oliveira Costa. Que foi quem foi e é quem é. Ora é sabido que as pessoas nem tudo podem dizer, mas tudo podem pensar. Não seria, por isso, mais vantajoso para todos esclarecer tudo, de uma só vez e, se possível, já?
<< Home