06 dezembro 2009

O Governo e a coligação negativa

A última semana tem sido dominada por uma des­sas expressões redutoras, utilizada a propósito e a despropósito: "coligação negativa". Não há intervenção de membro do Governo ou do primeiro-ministro que não alerte para o risco de uma "coligação negativa" paralisar o país. Ou de aumentar o défice. Ou de impedir o Governo de cumprir o seu programa.

José Manuel Fernandes, Público, 4 Dez 2009
Concordo inteiramente com José Manuel Fernandes quando diz que "uma das formas mais eficazes de condicionar o debate político é colocá-lo em termos que tornam difícil pensar", mas já não comungo da sua perplexidade perante o reiterado uso governamental da expressão "coligação negativa".

É que, como ele próprio diz na parte final do seu artigo no Público da passada sexta-feira, convém "saber o que é essencial e o que é secundário em cada debate". E o essencial aqui é que o Governo, vendo que uma estratégica e "interessada" coligação dos diferentes partidos da oposição dificulta ou mesmo impede a execução do seu programa, veio alertar para a gravidade da situação a que isso nos pode conduzir, incluindo, a própria ingovernabilidade. Sem partidarite: o que é que isto tem de condenável? Mais: se o Governo forçosamente tinha de se referir à coligação que lhe nega a execução do programa, teria alguma lógica apelidá-la de "coligação positiva"?

Este Governo fez (e faz), neste aspecto, o que qualquer outro governo faria, dado que o problema é político e não epistemológico. Ora um problema político requer uma comunicação política. E a comunicação política ou é persuasiva ou não é nada. Reconheça-se, pois, que a expressão "coligação negativa" foi muito bem apanhada e é precisamente por se revelar tão persuasiva que serve de assunto (principalmente, a quem se opõe ao Governo).