13 dezembro 2009

Quem não quer ser democrático não lhe veste a pele

A propósito do anúncio do vencedor do concurso do primeiro troço ferroviário de alta velocidade, o Editorial do "Público" de hoje (que chatice não ser assinado) avisa que o debate só agora está a sair da estação pois há dois discursos quanto ao TGV: um discurso da oposição (contra) e um discurso do Governo (a favor ). Adianta(m) o(s) nosso(s) anónimo(s) editorialista(s) que tudo depende da forma como vão evoluir o combate ao desemprego e o problema do endividamento.

Tecnicamente não pesco nada do assunto pelo que o deixo para os entendidos. Mas aproveito esta referência aos dois discursos sobre a mesma obra (TGV) para estranhar que o Governo se dê tão mal com a sua inevitabilidade e venha fazendo um verdadeiro "drama" sempre que a oposição não comunga das suas ideias. Pergunto-me mesmo quando é que o Governo e, em particular, José Sócrates, deixa de responder às críticas da oposição com verdadeiros ataques ao seu direito de discordar.

Vamos lá ver: quem não quer ser democrático não lhe veste a pele. O que caracteriza um regime democrático é precisamente tolerar uma oposição, é aceitar a legitimidade de um discurso contrário ao do poder constituído. Como lapidarmente mostrou Protágoras na sua teoria do duplo discurso, "a respeito de tudo há dois discursos que se contradizem um ao outro". Não se vê que a política pudesse ser uma primeira excepção.